“A ministra da Saúde tem de ser responsabilizada pelo que está a fazer e pelo que não está a fazer. Os médicos não podem continuar a ser o bode expiatório do Ministério, que não funciona, que não se interessa pelos profissionais e pelos doentes. Isto já ultrapassou a linha vermelha”, declara o bastonário em entrevista à agência Lusa.
Miguel Guimarães diz que “são vários meses a tentar empatar as situações, graves, que fazem com que os doentes continuem a estar demasiado tempo à espera de cirurgia, de consulta, que fazem com que os doentes não tenham acesso a médico de família”.
“Temos uma situação complexa e temos promessas da ministra para resolver algumas situações depois de outubro, depois das eleições, o que não é sério”, lamenta.
Miguel Guimarães assume ainda que a mudança de ministro na área da Saúde, que ocorreu em outubro de 2018, não foi benéfica e que a situação piorou.
“Tínhamos acordado várias questões importantes e matérias fundamentais para a qualidade da Medicina com o anterior ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes. A maior parte dessas coisas que tinham sido acordadas, de repente, voltou à estaca zero. Isto não é possível. Até parece que mudou o Governo. É extraordinariamente difícil trabalhar sem qualquer estabilidade”, queixa-se o bastonário, em dia de Fórum Médico, reunião que hoje junta em Lisboa a Ordem, sindicatos e associações do setor.
O representante dos médicos assume o “desconforto em relação à mudança de ministro”, com Marta Temido a substituir Campos Fernandes, alegando que passados “meses largos de atividade” a nova ministra não tem resolvido problemas nem dado andamento a processos que estavam em curso.
Miguel Guimarães recorda que a Ordem era também crítica do anterior ministro, mas estabelece diferenças:
“Apesar de tudo, quando [Campos Fernandes] tinha intervenções públicas, respeitava as pessoas. Raramente assumiu uma posição de falta de respeito perante os médicos ou enfermeiros. Esta ministra não. É muito complicado quando as pessoas que fazem o SNS todos os dias ouvem insinuações de que os médicos nem por 500 euros à hora trabalham, o que é uma falsidade, ou ouvem insinuações sobre vencimentos ou sobre os médicos serem responsáveis pelo que está a acontecer na saúde”.
Em relação aos médicos internos, o bastonário considera que Marta Temido criou uma “situação inédita no país” ao conseguir “tê-los a todos revoltados”.
Aliás, Miguel Guimarães estima que os médicos internos (jovens médicos em formação de especialidade) “vão ter um papel muito importante” no Fórum Médico de hoje.
“Estão com muita energia e querem fazer qualquer coisa mais forte”, disse.
A propósito dos jovens médicos, a Ordem decidiu que vai avançar com uma auditoria aos processos de atribuição de vagas para especialidade e de capacidade formativa dos serviços de saúde.
Lembrando que há médicos que em Portugal não têm acesso à especialidade, muito porque há jovens formados noutros países que tiram a especialidade em hospitais portugueses, o bastonário entende que é importante fazer uma auditoria sobre todo o processo que envolve a formação dos médicos para ver onde é possível melhorar.
Este era um dos projetos que a Ordem já tinha negociado com o anterior ministro da Saúde, mas que entretanto não avançou, lembra ainda Miguel Guimarães na entrevista à Lusa.
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