“Recebemos um relatório sobre o potencial conflito de interesses da contratação de Isabel Nicolau como diretora de Eficiência e Estabilidade. […] O relatório diz que não havia nenhuma entrevista programada, que não havia sequer três candidatos”, afirmou a deputada bloquista Mariana Mortágua, na audição do presidente da comissão de vencimentos da TAP, Tiago Aires Mateus, na comissão de inquérito à TAP.
Segundo a deputada, o relatório, a que a comissão teve acesso, refere também que o antecessor de Isabel Nicolau não decidiu deixar a companhia, como foi comunicado pela TAP, mas sim despedido.
Adicionalmente, o mesmo documento conclui que Isabel Nicolau foi ganhar mais 30% do que o anterior diretor, num contexto de aplicação de cortes salariais aos trabalhadores da companhia a passar por um plano de reestruturação.
Questionado pela deputada, Tiago Aires Mateus — que confirmou ter sido também administrador da companhia aérea entre 13 de novembro de 2015 e 30 de julho de 2017 — disse não ter conhecimento desta situação.
Em outubro de 2022, alguns meios de comunicação social deram conta da contratação de uma nova diretora para a companhia aérea, sem experiência na área da aviação e que seria amiga da então presidente executiva (CEO), Christine Ourmières-Widener.
No mesmo dia, a TAP rejeitou a interferência da presidente executiva na contratação de nova diretora, apesar de “relacionamento pessoal recente”, e sublinhou que Isabel Nicolau tem “duas décadas de provas dadas” a liderar equipas em empresas de engenharia.
“Contratámos, no início de outubro, uma nova diretora de processos, ‘real estate’ [imobiliário] e sustentabilidade, com mais de duas décadas de provas dadas a liderar equipas técnicas e comerciais em empresas de engenharia”, começou por referir a Comissão Executiva da TAP, em nota enviada aos trabalhadores na ocasião, a que a Lusa teve acesso.
“O processo de seleção foi conduzido exclusivamente pela administradora do respetivo pelouro e pela diretora de Recursos Humanos, tendo sido entrevistados três candidatos para esta posição, sem que a atual CEO tivesse tido qualquer participação na decisão”, lê-se na mesma nota.
A Comissão Executiva sublinhou que “ainda assim, porque esta nova diretora tem um relacionamento pessoal recente com a atual CEO, a sua contratação está a ser associada a este facto, o que se rejeita”.
Na nota enviada aos trabalhadores, a empresa esclareceu também que o valor de 15.000 euros referido para o salário da nova diretora, que foi avançado nas notícias, “não corresponde à realidade, sendo substancialmente inferior”.
Pinto e Urban receberam prémio com metas fixadas já após divulgação de resultados
Na mesma audição, Mortágua revelou também que os ex-administradores da TAP Fernando Pinto e Max Urban receberam um prémio de 2016, após decisão de não atribuir bónus naquele ano e com metas fixadas depois de conhecidos os resultados da companhia.
“Em 2016, a comissão de vencimentos, da qual não fazia parte, decidiu que não ia atribuir prémios à recentemente nomeada administração. […] Passado uns meses, esta decisão é revista e são estabelecidas metas já depois de conhecidos os resultados e são atribuídos dois prémios: 275.940 euros a Fernando Pinto e 206.955 euros a Max Urban”, afirmou Mariana Mortágua.
Quando questionado como é possível esta decisão, numa altura em que era administrador, Tiago Aires Mateus disse que a decisão não passou por reunião de Conselho de Administração em que tenha participado.
“Nunca tive conhecimento disso, senhora deputada”, garantiu.
Ainda questionado sobre a razão para Fernando Pinto e Max Urban terem recebido prémio naquele ano, mas Humberto Pedrosa não, o atual presidente da comissão de vencimentos disse não ter explicação.
Antes, o deputado comunista Bruno Dias avançou que está identificado num dos documentos enviados à comissão de inquérito o pagamento de 4,3 milhões de euros aos administradores nomeados pela Atlantic Gateway, o consórcio de David Neeleman e Humberto Pedrosa.
Assim, o PCP entregou um requerimento para solicitar o “envio, pela TAP, de uma listagem discriminada de todos os pagamentos feitos à Atlantic Gateway, com o respetivo fundamento, e outras empresas detidas pelos administradores privados, à data, bem como cópia e anexos de todos os contratos assinados e valores envolvidos”, bem como “o envio pela Segurança Social da informação sobre os pagamentos realizados nos anos de 2016 provenientes de rendimentos do trabalho na TAP ou na Atlantic Gateway dos administradores nomeados pela Gateway para a TAP”.
Para o PCP, “Os contratos de prestação de serviços celebrados entre a TAP e a Atlantic Gateway são a demonstração da ‘porta aberta’ à retirada de fundos da TAP pelos, e ao serviço, dos administradores privados, praticamente sem controlo nenhum”.
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