“O que é importante para o BE neste momento é afirmar que a esquerda não são os centros das negociatas, dos favores, dos privilégios, das grandes empresas que beneficiam com cada decisão e cada grande projeto económico deste país. A esquerda são as pessoas que trabalham, e são essas pessoas que merecem ter um salário que lhes permita ter uma vida digna”, considerou Mariana Mortágua.

A líder bloquista falava aos jornalistas em Lisboa à margem do protesto organizado pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional (CGTP-IN), sob o lema “Pelo Aumento dos Salários/Contra o Aumento do Custo de Vida”.

“O que é importante neste momento é que cada partido diga ao que vem, cada força política se comprometa com os seus princípios, os seus valores e as suas propostas”, salientou.

Para Mariana Mortágua, das próximas eleições legislativas antecipadas, que estão marcadas para 10 de março na sequência da demissão apresentada pelo primeiro-ministro, António Costa, “é preciso sair uma esquerda que se bata pelo país, que saiba que o país só anda para a frente se respeitar quem trabalha e quem constrói este país”.

“E respeitar quem trabalha quer dizer aumentar salários, dar condições às pessoas que trabalham, tanto no setor público como no privado”, afirmou.

Insistindo na importância de que cada partido apresente as suas prioridades, Mariana Mortágua deixou as dos bloquistas: “salário que pague uma vida digna, um Serviço Nacional de Saúde para todos, educação que chegue para todas as crianças e para todos os jovens, habitação digna e acessível para toda a gente.”

“E claro, uma gestão séria daquilo que é público, que é de todos e que não pode ser gerido como uma negociata ou mais um privilégio de grandes empresas”, acrescentou.

Interrogada sobre a declaração ao país que o primeiro-ministro marcou para as 20:00 de hoje, na residência oficial em São Bento, Lisboa, Mariana Mortágua rejeitou “prognósticos”, dizendo que vai aguardar para ouvir o chefe do executivo.

António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público (MP) no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.

No dia da demissão, o primeiro-ministro recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável”.

De acordo com o MP, no processo dos negócios do lítio em Boticas e Montalegre, do hidrogénio verde e do centro de dados em Sines podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.

A operação do Ministério Público levou à detenção de cinco pessoas para interrogatório: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa.

No total, há nove arguidos no processo, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado e antigo porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.