
O debate começa poucas horas depois do anúncio da averiguação preventiva a Pedro Nuno Santos, e foi exatamente por esse caminho que o moderador Hugo Gilberto tentou abrir o diálogo. Com pouco sucesso, uma vez que tanto Nuno Melo como Joana Mortágua afirmam estar nos debates para resolver os problemas dos portugueses, o ministro da Defesa não deixa de dizer que “não vai fazer a Pedro Nuno Santos o que este fez a Montenegro”.
O balanço da habitação
As duras críticas que Joana Mortágua começa por fazer ao executivo da AD no campo da habitação parecem inicialmente o começo de um bom argumento. Acusa Nuno Melo de não ser capaz de fazer um resumo daquilo que o governo fez pela habitação, mas o ministro prova o contrário. Enquanto Joana Mortágua diz que todas as medidas da AD para a habitação fizeram aumentar o preço das casas, Nuno Melo aponta a falta de oferta como o grande motivo para a crise.
Neste tema, o candidato da AD estava mais preparado para responder às críticas, recorrendo a gráficos e a factos. Não chega dizer que é preciso baixar as rendas e por isto, houve falta de soluções apresentadas pelo Bloco neste debate, relativamente àquele que deveria ser um dos temas-chave para o partido.
A “Venturização” do debate
O tema da governabilidade foi talvez o mais fraco para ambos os lados. Por momentos, houve a sensação que Nuno Melo estava a debater com André Ventura, porque durante alguns minutos quem tomou conta do palco foi o Chega. Para o candidato da AD, foi uma tentativa de reconquistar o eleitorado de centro-direita, num apelo para evitar um governo do PS. No entanto, Joana Mortágua prefere falar numa “Venturização do PSD”. A candidata do Bloco de Esquerda não deixa de fazer algumas provocações a Nuno Melo, que considera ser “o esquecido” da AD.
Saúde. Quem é o mais culpado?
Para se defender no tema da saúde, Nuno Melo usa como exemplo a linha SNS Grávida, que considera ser um sucesso. Mas para o bloco, a AD é “forte em linhas, mas não em médicos”.
Se as críticas de Joana Mortágua foram fortes relativamente à saúde, Nuno Melo estava igualmente bem preparado com dados que usou para responder. No entanto, é possível questionar a eficácia do excesso de dados apresentados, que, muitas vezes, acaba por confundir o eleitorado, em vez de chegar até ele.
Para a AD, o Bloco é responsável pelo estado da saúde em Portugal, uma vez que “priorizaram ideologias” no tempo da Geringonça, fazendo uma referência às parcerias público-privadas. Mas para Joana Mortágua, que acusa Nuno Melo de fazer propaganda, é ainda mais grave prometer “salvar o SNS em 60 dias” e acabar por afundá-lo, como acusa a AD de ter feito.
Imigração, mentiras e ideologias
Entre as várias críticas que Joana Mortágua faz à AD, destaca-se a acusação de mentir ao país no que toca aos números da imigração e de “precisar dos imigrantes” mas não os respeitar.
Já Nuno Melo, refere mais uma vez as “ideologias” do Bloco que acredita serem culpadas pela falta de humanismo perante os imigrantes. É outro dos temas que seria expectável ser crucial para o eleitorado do Bloco de Esquerda, mas mais uma vez, apesar das excelentes críticas, faltam também excelentes soluções.
“Guerra” de ideias na Defesa
A defesa foi provavelmente o tema onde o debate ficou mais caótico, ainda assim sem ter comparação ao que tem sido o padrão destas legislativas. Em polos completamente distintos, Nuno Melo critica a posição do Bloco face à NATO e a disparidade entre o investimento na segurança social e na defesa. Já Joana Mortágua associa a NATO a Donald Trump, que considera “o melhor amigo de Putin” e critica um maior investimento na Defesa, no lugar da Educação ou das pensões. Ambos os lados acusam o outro de mentir.
Foi um debate positivo pelo respeito e pela ética, apesar das ideias dos dois partidos estarem em polos diferentes. No entanto, mais uma vez, foi um debate curto no que toca às respostas que o país tanto quer.
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