A mulher, que vivia nos arredores de Paris, decidiu mudar-se para a localidade de Aldeia Rica, no concelho de Celorico da Beira, na zona da Serra da Estrela, em setembro de 2002.

Beatrice, que era contabilista em França, optou por se radicar numa aldeia do interior de Portugal depois de se apaixonar pelo companheiro, António Tomás, e pelo sossego da região.

O casal, que possui um rebanho de 60 ovelhas da raça Bordaleira, uma raça típica da região da Serra da Estrela, não produz queijo, mas vende uma média diária de vinte litros de leite para uma fábrica de laticínios.

A mulher, mãe de três filhos (uma rapariga com 21 anos, que vive em França, outra de 11 anos e de um rapaz de 16 anos), não se arrepende da decisão que tomou e garante que o que mais lhe agrada é a tranquilidade do campo.

“Estou habituada ao stresse de Paris e isto é o paraíso, mesmo ao fim de 17 anos”, disse hoje à agência Lusa.

No entanto, Beatrice adverte que a pecuária em torno da fileira do queijo da Serra da Estrela não é tarefa fácil para os mais jovens e “para quem quer começar”, porque “não há apoio a nível governamental”.

No seu caso, diz que não se arrepende de ter trocado a vida da cidade pela do campo, embora lembre que passou a ter uma atividade em que “não há feriados nem domingos”.

Contou que os jovens atuais ligam mais “à internet e ao telemóvel” e fogem das aldeias para as vilas e cidades. Por isso, “não vê” que o seu exemplo possa servir de incentivo para que eles se dediquem à atividade pecuária e à pastorícia.

A empresária agrícola disse ainda que a pecuária não permite enriquecer, mas é uma atividade que “dá” para o dia-a-dia.

“Para ter um bocado de dinheiro de lado, já não dá. Dá para viver e para pagar as despesas”, assegura a francesa Beatrice Brindelle.

O seu companheiro, António Tomás, de 44 anos, que pastoreia diariamente as ovelhas e trata da ordenha dos animais, não esconde o orgulho e a satisfação por a mulher ter decidido trocar de país e de profissão e optar pela vida tranquila do campo.

O homem referiu à Lusa que os moradores de Aldeia Rica “admiraram-se” por Beatrice se “agarrar” à pecuária e ajudá-lo nas tarefas diárias, algumas das quais exigem muita resistência e grande esforço físico.

Também disse que assistiu com “muito orgulho” ao facto de “ela se agarrar à vida [do campo] como se agarrou”: “Uma mulher francesa, que veio de França e deitou as mãos a tudo. Andava com tratores, tirava estrume [dos estábulos dos animais], ordenhava [as ovelhas] comigo, guardava as ovelhas, fazia tudo”.

A mulher continua a ajudar diariamente o companheiro a cuidar dos animais, embora tenha reduzido a sua participação nas lides agrícolas e pecuárias devido a problemas de saúde.

No futuro, ambos gostavam que os filhos pudessem dar seguimento à sua atividade e mantivessem na família as ovelhas típicas da região da Serra da Estrela.