Contactada por telefone pela Lusa desde Lisboa, Manuela Bairos explicou, a partir de Beirute, que a medida visa facilitar as ligações entre eles e entre os serviços consulares e da embaixada de Portugal em Chipre, uma vez que Portugal não dispõe nem de embaixada nem de consulado no Líbano.
Nesse sentido, Manuela Bairos disse que, ainda hoje, vai visitar os sete portugueses que estão a trabalhar na construção de uma barragem próximo de Biblos (Jbeil, em árabe), a cidade continuamente habitada mais antiga do mundo, desenvolvida dentro de uma muralha desde o período Neolítico até 2150 AC, na costa mediterrânea do Líbano, 42 quilómetros a norte de Beirute.
Serão esses sete portugueses, que trabalham numa obra de uma empresa brasileira, que a irão ajudar a criar o “grupo” nas redes sociais.
Depois de ter sido obrigada a um confinamento de 36 horas após a chegada, domingo, a Beirute, após o teste obrigatório de despistagem à covid-19, Manuela Bairos sublinhou que, hoje de manhã, recebeu vários cidadãos portugueses e outros luso-libaneses, não havendo indicações que qualquer vítima entre a comunidade lusa, estimada em cerca de uma centena, dispersos pelo país.
Manuela Bairos sublinhou não haver conhecimento de algum cidadão português ou luso-libanês vítima das explosões de 04 deste mês em Beirute, que provocou pelo menos 160 mortes.
Porém, adiantou que nada é definitivo, uma vez que ainda há dezenas de desaparecidos entre os escombros e que as equipas de busca e salvamento estão ainda a operar nas zonas devastadas pelas explosões, que deixaram ainda 6.000 feridos e 300.000 pessoas sem casa.
Manuela Bairos salientou que hoje ao fim da manhã ainda teve oportunidade de visitar a cidade, bem como a zona do porto de Beirute, local das explosões, mostrando-se “desalentada” com a destruição de bairros inteiros da capital libanesa.
As ruas estão praticamente desertas – “as pessoas não se esqueceram da pandemia” de covid-19 -, mas nas estradas em que é possível circular registam-se grandes engarrafamentos.
Os trabalhos de limpeza da cidade, maioritariamente feitos por jovens voluntários que vieram de várias partes do país, também impressionou a diplomata portuguesa, aludindo à difícil tarefa de remover as toneladas de vidro estilhaçadas um pouco por toda a cidade.
“Veem-se voluntários nas ruas, mas também elementos da Proteção Civil libanesa, militares e muitas equipas [de reportagem] de televisão. Mas a cidade parece começar a renascer”, afirmou Manuela Bairos, que permanecerá no Líbano até ao final do dia de quinta-feira.
Sobre a queda do Governo libanês – o executivo de Hassan Diab apresentou segunda-feira a demissão ao Presidente Michel Aoun -, Manuela Bairos escusou-se a comentar, mas salientou esperar que o futuro do Líbano, tal como no passado, seja risonho.
“Tenho, todos os que com quem falei, têm dificuldade em ver o que será o futuro do país, mas há um consenso generalizado de que se tem de aproveitar este momento político para virar mais uma vez a página, de a juventude aproveitar as circunstâncias para dar a volta às dinastias políticas que há muito lideram o Líbano”, afirmou.
Segundo Manuela Bairos, ainda há muitos protestos nas ruas, maioritariamente de jovens, uma vez que a taxa de desemprego chegou já aos 35% da população ativa, mas há também “muita solidariedade também”, o que pode ser considerado “positivo” para um país a que a comunidade internacional está disposta a ajudar, mas noutros moldes.
“Pode ser que tudo isto desperte uma nova realidade. Não é fácil. O Líbano está numa posição geoestratégica muito importante”, afirmou.
A visita a Beirute visa reforçar o contacto com os portugueses residentes na capital libanesa e atender às suas preocupações e necessidades, proporcionando também assistência consular face a pedidos que se têm registado de cidadãos que, na sequência das explosões, ficaram indocumentados ou pediram a emissão de vistos a familiares.
As autoridades libanesas têm atribuído as explosões a um incêndio num depósito no porto onde se encontravam armazenadas cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio.
As explosões viram também alimentar a revolta de uma população já mobilizada desde o outono de 2019 contra os líderes libaneses, acusados de corrupção e ineficácia.
Segunda-feira, o Governo libanês, acusado de corrupção e de má gestão da pandemia, bem como responsabilizado pela crise económica grave, apresentou a demissão.
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