No dia 01 de maio, às 00:00 locais (15:00 de terça-feira, dia 30, em Lisboa), o Japão entra no ano 1 da nova era imperial “Reiwa” (“Bela harmonia”), após três décadas sob o império de “Heisei” (Conclusão da paz”).
Pela primeira vez em dois séculos, um imperador abdica do trono em vida, em virtude de uma lei de exceção escrita especificamente para Akihito, que em 2016 tinha expressado o seu desejo de se poder afastar de funções, por “não poder exercer de corpo e alma” as tarefas de imperador, com problemas de saúde.
Com 85 anos, Akihito deixa o trono ao seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Naruhito, de 59 anos, historiador de formação e propenso a ignorar a tradição imperial rígida e os protocolos severos do Japão.
Naruhito promete ajudar o Japão a avançar para a modernização da mais antiga monarquia reinante do mundo, tornando-se o imperador número 126 a subir ao Trono do Crisântemo.
A biografia de Naruhito não é a mais ortodoxa para o padrão dos príncipes herdeiros do Japão, tendo sido criado pela mãe, Michiko, e não pelo pessoal do Palácio Imperial, e tendo estudado no estrangeiro, em vez de ficar pelos estabelecimentos de ensino japoneses, como era tradição.
Tal como o pai, Naruhito casou com uma plebeia, a princesa Masako, a quem tem protegido de críticas e ataques públicos, sobretudo na fase em que esta atravessou uma fase de doença prolongada de foro psicológico.
A figura do imperador do Japão foi forjada ao longo dos séculos, a partir da origem divina que simbolicamente se lhe associa, mas a história recente tem reafirmado a sua personagem como um símbolo de unidade do Estado, embora com funções políticas quase nulas.
Nem sequer naquilo que está associado ao regime imperial que protagoniza: quando o governo do Japão recentemente escolheu o novo nome para a época que terá início em 01 de maio, “Reiwa” (“bela harmonia”), o imperador não foi tido nem achado.
Após a derrota do Japão na II Guerra Mundial, o novo papel do imperador ficou muito limitado, praticamente com valor simbólico.
É o imperador que nomeia o primeiro-ministro, mas estritamente de acordo com a decisão do Parlamento.
“Segundo a Constituição, o imperador japonês é um símbolo, mas penso que este imperador já transformou o símbolo num ser humano”, defende Makoto Inoue, jornalista que há 15 anos cobre a agenda imperial para o jornal Nikkei.
O imperador que agora abdica, Akihito, teve uma educação bem mais tradicional que a do filho, conduzida por tutores imperiais, mas passou por experiências traumáticas, como quando teve de fugir da II Guerra Mundial, em criança, através das montanhas de Nikko.
Desde que foi nomeado imperador, após a morte do pai, em 1989, Akihito recusou sempre ser tratado como um “ser divino” e procurou humanizar o cargo que ocupou, lutando sempre pela imagem do Japão como um país pacífico, tendo mostrado remorso pelos ataques do exército imperial japonês, durante a II Guerra Mundial.
Tal como o filho que agora o sucede no cargo, Akihito também casou com uma plebeia, a imperatriz Michiko, que conheceu a praticar ténis, um dos seus desportos favoritos.
Ao filho, Naruhito, incutiu o gosto pelas viagens, convenceu-o a estudar em Oxford, em Inglaterra, e sempre acarinhou o perfil mais heterodoxo do herdeiro que agora assume o lugar de imperador.
Os analistas dizem que o novo imperador manterá a proximidade com as pessoas que o pai já tinha trazido para o trono e espera-se que ele preserve o espírito pacifista e de defesa da Constituição japonesa.
Quem lida com Naruhito de perto descreve-o como “sincero e atencioso” com quem o rodeia e muito interessado nas causas sociais e ambientais.
Mas os japoneses estão já preocupados com a sucessão da família imperial, já que Naruhito e Masako têm apenas uma filha, Aiko, de 17 anos, que pela sua condição feminina não poderá aceder ao trono, deixando o lugar para o próximo na linha de sucessão, Akishino, irmão mais novo de Naruhito, e o seu filho, Hisaito, de 12 anos, único neto de Akihito.
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