Uma hora antes do início do julgamento, representantes dos lesados do Banco Espírito Santo já estavam em protesto junto ao Campus de Justiça, em Lisboa, com um carro funerário onde colocaram uma fotografia de Ricardo Salgado, em homenagem às vítimas que perderam a vida na esperança de recuperar o seu dinheiro.
O primeiro dia deste julgamento é o "reacender de uma esperança", disse à Lusa o presidente da Associação de Defesa de Clientes Bancários (ABESD), que promoveu o protesto.
No entanto, não é no julgamento que os lesados da falência do banco depositam a esperança numa solução, antecipando um processo demorado nos tribunais.
"Esta é uma via para a resolução do problema ao fim de dez anos, sendo que a outra via é uma via negocial que, por sucessivos motivos, tem vindo a ser adiada", defendeu Afonso Mendes, que representa os clientes das sucursais no estrangeiro, que continuam a aguardar uma resposta.
"Não conseguimos perceber porque é que, estando exatamente nas mesmas condições, o Governo não nos resolve o problema. De outra maneira, temos portugueses de primeira e de segunda", acrescentou.
Outro dos lesados presentes no Campus de Justiça integra o grupo que rejeitou a solução a que Afonso Mendes se referia, para os 2.100 lesados do papel comercial do BES e que passou pela criação, em 2017, de um fundo de recuperação de créditos que permitiu a recuperação de 75% dos investimentos até 500 mil euros (num máximo de 250 mil euros) e 50% dos investimentos acima de 500 mil euros.
"Jamais perdoarei o que me fizeram, nunca vou esquecer e vou reclamar sempre o meu dinheiro na totalidade", disse Paulo António, lamentando que "volvidos dez anos, ninguém resolveu" o problema.
Apelando também ao Governo, "ou a quem de direito", Paulo António espera o dia em que seja anunciado que todos os lesados serão "ressarcidos na totalidade e sem exceção".
"Saíamos das ruas, acabava o nosso sofrimento, acabavam os nossos protestos", continuou, considerando que o julgamento que se iniciou hoje "vai prolongar-se no tempo e não vai dar em nada".
Luís Marques representa a Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses e acredita que o processo ficará para a história, esperando que possa concluir-se rapidamente e com uma solução para as quase duas mil famílias que representa.
"Estamos aqui a ver se hoje se inicia uma parte da justiça ao fim de dez anos", sublinhou.
O julgamento do processo BES/GES começou hoje no Juízo Central Criminal de Lisboa, dez anos após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), num caso com mais de 300 crimes e 18 arguidos, incluindo o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
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