“De acordo com o relatório da Deloitte, o Montepio recebeu 40 milhões da provisão que nos era destinada e 80 milhões foram para o Millennium BCP, por isso iremos também fazer algum protesto em frente ao Millennium, porque essas provisões eram destinadas aos clientes de retalho, não eram destinadas aos institucionais”, disse à Lusa, um dos porta vozes do grupo de lesados do antigo Banco Espírito Santo (BES).
António Silva lembrou que “há mais de quatro anos” que têm “as contas a zero".
“Enquanto não nos pagarem, vamos continuar nisto até morrer, porque são as poupanças de toda uma vida de trabalho, não somos jogadores de casino”, sublinhou.
Segundo António Silva, a próxima manifestação já está agendada para o próximo dia 22, em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa.
“Vamos estar novamente em frente ao Palácio de Belém, porque entendemos que o Presidente da República é o garante do bom funcionamento das instituições e devia tomar uma atitude, porque estamos nesta situação há mais de quatro anos por falhas das instituições, nomeadamente do Banco de Portugal e do Novo Banco. Não temos culpa de utilizarem a provisão com que nos andaram a enganar para pagar outras imparidades”, acrescentou.
Em declarações à Lusa, um outro lesado, Jorge Novo, referiu também que a manifestação de hoje em frente ao Montepio, visou lembrar que “estes senhores já foram reembolsados no valor de 40 milhões e que essa quantia era respeitante aos lesados, clientes de retalho”.
“É sempre a mesma coisa: os ‘tubarões' ficam em primeiro lugar, os clientes de segunda, terceira e quarta classe são rejeitados e colocados de lado. Isso não é correto. Os lesados precisam de respeito e dignidade”, acrescentou.
O emigrante Manuel Sousa justificou o facto de estar com a bandeira francesa na mão por ter sido a França quem lhe “propôs um futuro e onde ganhou o dinheiro que colocou nos bancos portugueses” e que lhe foi “roubado”.
“Ganhei dinheiro em França, coloquei-o nos bancos portugueses e, finalmente, os bancos portugueses, o Estado português, roubaram-me. Eu não sou só lesado, eu sou uma pessoa roubada pelos bancos, pelo sistema bancário e pelo Estado português. Essa é a razão porque eu trago a bandeira francesa”, afirmou.
Emigrado há 48 anos, Manuel Sousa promete não desistir até rever a totalidade do seu dinheiro.
“O dinheiro é meu, não é negociável, eles têm que me reembolsar na totalidade”, frisou.
Recordou “as promessas que os quadros superiores do PS fizeram em 2015, durante campanha eleitoral. Disseram que se fossem governo iriam ressarcir os lesados na integra”.
“Onde está a palavra, as promessas, desses senhores?” , questionou.
E acrescentou: “Enquanto tiver vida, não saio da rua, para denunciar o que se está a passar, eu não tenho confiança absolutamente nenhuma no sistema bancário deste país e a confiança nos políticos também acabou”.
Este grupo de lesados colocou-se à margem das negociações levadas a cabo pela Associação dos Enganados e Indignados do Papel Comercial (AIEPC) para devolução aos lesados de parte do valor investido, exigindo a devolução da totalidade do dinheiro que perderam em aplicações que lhes asseguraram ser “garantidas”.
O BES, tal como era conhecido, acabou em agosto de 2014, deixando milhares de pessoas lesadas devido a investimentos feitos no banco ou em empresas do Grupo Espírito Santo.
O Banco de Portugal, através de uma medida de resolução, tomou conta da instituição fundada pela família Espírito Santo e anunciou a sua separação, ficando os ativos e passivos de qualidade num ‘banco bom', denominado Novo Banco, e os passivos e ativos tóxicos no BES, o ‘banco mau' (‘bad bank'), sem licença bancária.
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