Com promessas sociais e aumento de impostos para ricos, o projeto orçamental apresentado por Joe Biden tem na mira as eleições de 2024, mas as medidas mais contundentes têm poucas chances de serem aprovadas no Congresso.

"O meu orçamento reflete o que podemos fazer para aliviar o fardo dos trabalhadores americanos", disse Biden num discurso para sindicalistas em Filadélfia, Pensilvânia, um estado estratégico para as eleições de 2024. O presidente, porém, ainda não anunciou oficialmente se irá concorrer à reeleição.

O democrata de 80 anos parece querer apelar aos eleitores do movimento "Make America Great Again" (MAGA) do seu antecessor, o republicano Donald Trump. Biden tenta convencer a classe média de que as medidas mais benéficas são de autoria democrata.

O plano orçamental de 2024 contempla a redução do défice fiscal previsto em quase 3 triliões de dólares nos próximos 10 anos.

Mas as medidas mais chamativas quase não têm hipótese de ser aprovadas, já que o Partido Democrata controla apenas a câmara alta do Congresso, o Senado. A Câmara de Representantes está nas mãos dos republicanos, que se opõem veementemente ao aumento de impostos.

Proposta imprudente"

O presidente dos Estados Unidos quer introduzir um imposto mínimo de 25% para os bilionários, ou seja, 0,01% dos mais ricos. Com receita adicional, Biden estima que poderia garantir por mais 25 anos o financiamento do Medicare, um seguro de saúde público que beneficia os americanos acima de 65 anos.

"O meu orçamento pedirá aos ricos que paguem sua parte justa para que milhões de trabalhadores que ajudaram a construir essa riqueza possam reformar-se com o Medicare pelo qual pagaram", disse Biden num tweet.

O presidente democrata também quer aumentar a carga tributária das empresas, de 21% para 28% de sua receita, ainda bem abaixo dos 35% vigentes antes da reforma do ex-presidente Trump em 2017.

O presidente republicano da Câmara baixa, Kevin McCarthy, chamou o plano de "proposta imprudente" e comparou-o a "políticas de gastos de extrema esquerda que levaram a uma inflação recorde" e "à atual crise da dívida". Na sua opinião, é preciso "reduzir gastos públicos desnecessários".

Biden propõe reduzir alguns gastos, especialmente no setor farmacêutico e na indústria petrolífera. E, para seduzir o eleitorado republicano, disse que seu orçamento prevê grandes investimentos em defesa e exército.

Imigração

Uma das secções do orçamento está focada na migração, especialmente na fronteira com o México, um tema que causa dores de cabeça para o governo faltando apenas algumas semanas para que seja suspensa uma lei que permite impedir a entrada de quase todos os migrantes interceptados na fronteira por questões sanitárias.

Para "melhorar a segurança nas fronteiras e a aplicação da lei", quase 25 mil milhões de dólares seriam destinados à Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) e à Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), um aumento de quase 800 milhões de dólares em relação a 2023.

O valor inclui, entre outras coisas, fundos para contratar mais 350 agentes de patrulha de fronteira, 535 milhões de dólares para tecnologia de segurança nos portos de entrada e 40 milhões de dólares para combater o tráfico de fentanil, um opioide produzido principalmente no México por cartéis de drogas que causa estragos no EUA.

Dado o crescente número de migrantes interceptados na fronteira com o México (mais de dois milhões em 2022), o orçamento propõe um novo fundo de 4,7 mil milhões de dólares para ajudar o DHS (Departamento de Segurança Interna) a "responder aos aumentos repentinos da migração".

Para abordar as chamadas "causas profundas da migração e melhorar a vida das pessoas na América Central", Biden pede mais de mil milhões de doláres como parte de seu compromisso de fornecer 4 mil milhões de dólares em quatro anos para esse fim.

Biden pede também 430 milhões de dólares para administrar a migração, 40 milhões de dólares para "apoiar programas direcionados para melhorar a vida de migrantes e refugiados" na América Latina e no Caribe e 75 milhões de dólares para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O governo também fornece 865 milhões milhões de dólares para processar casos de asilo e pretende investir 291 milhões de dólares no Haiti, um país que vive uma profunda crise humanitária.

Teto da dívida

Há outra questão financeira urgente para democratas e republicanos: o chamado "aumento do teto da dívida".

Os Estados Unidos devem aumentar periodicamente, por meio de votação no Congresso, a capacidade de endividamento do governo.

Kevin McCarthy garante que suas fileiras não votarão a favor do aumento do teto da dívida até que Joe Biden contenha os gastos públicos.

As apostas são altas: se o confronto se prolongar demasiado, os Estados Unidos estariam sob risco de default.

A dívida da maior economia do mundo atingiu 31,4 triliões de dólares a 19 de janeiro, teto acima do qual o país não pode mais emitir títulos para se financiar e, portanto, não consegue mais honrar os seus pagamentos. Por enquanto, o governo adotou medidas temporárias para continuar pagando.