“Este golpe é da responsabilidade das forças mais reacionárias e violentas na Bolívia, que estão a lutar contra movimentos populares, organizações sindicais, sindicalistas e funcionários governamentais”, considera Sandra Pereira, vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para a Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, num comunicado hoje divulgado pela sua bancada europeia.

Segundo a deputada eleita pelo PCP, que em outubro se deslocou à Bolívia para observar a realização das eleições presidenciais, os eventos mais recentes podem abrir a porta ao “regresso do fascismo à Bolívia”.

“[O golpe] tem também o apoio dos Estados Unidos, que pretendem derrotar o projeto progressista e soberano que teve início em 2006, tornando possível a ameaça do fascismo contra o Estado Plurinacional da Bolívia”, sustenta a deputada.

O mesmo comunicado do Grupo da Esquerda Unitária – que integra as delegações do PCP e do Bloco de Esquerda – cita também o eurodeputado espanhol Manu Pineda, do partido Izquierda Unida, que lamenta o silêncio da União Europeia e da comunidade internacional em geral.

“Evo Morales anulou as eleições e convocou novas [eleições], mas ainda assim tal não travou o violento golpe de Estado. Um golpe de Estado fruto da conspiração de uma oligarquia que nunca aceitou que o governo boliviano pudesse ser a voz do povo, e ao qual, até ao momento, a comunidade internacional e a UE não responderam de forma veemente”, lamentou.

Segundo o eurodeputado espanhol, que se manifesta particularmente “preocupado com a segurança do Presidente Morales”, a UE está a “manter o mesmo silêncio das Nações Unidas e de organizações internacionais, que manifestaram preocupação com o resultado das eleições e que agora são cúmplices com o que está a acontecer”.

Também líderes da esquerda latino-americana reunidos na Argentina denunciaram o que classificaram igualmente como um golpe de Estado na Bolívia.

"A Constituição e o Estado de direito da Bolívia foram violados, interrompendo um mandato constitucional. Forças da oposição desencadearam atos de violência, de humilhação de autoridades, de invasão, saques e incêndios de casas, de sequestros e ameaças a parentes para aplicarem um golpe de Estado e para forçarem a renúncia do Presidente Evo Morales", afirmaram, numa declaração, os líderes da esquerda latino-americana reunidos em Buenos Aires em torno do Grupo de Puebla, uma aliança progressista que reúne 32 políticos de 12 países da região.

Na reunião que durou três dias, o Grupo de Puebla passou de celebrar a liberdade do ex-Presidente Lula, na sexta-feira, e a decisão de reformar a Constituição do Presidente chileno, Sebastián Piñera, no sábado, à preocupação com a renúncia do líder boliviano, Evo Morales, anunciada no domingo.

A Bolívia sofre uma grave crise desde a proclamação de Evo Morales como Presidente para um quarto mandato consecutivo nas eleições de 20 de outubro, marcadas por suspeitas de fraude eleitoral, denunciada pela oposição e movimentos da sociedade civil.

Os confrontos entre apoiantes e opositores do Presidente da Bolívia desde o dia seguinte às eleições causaram pelo menos três mortos e 384 feridos, segundo dados da Provedoria da Bolívia.

Na última madrugada, Evo Morales, que renunciou após perder o apoio das forças armadas e da polícia, disse que foi emitido contra si "um mandado de detenção ilegal" e que grupos violentos invadiram a sua casa.

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