“Ganhámos na primeira volta”, anunciou em conferência de imprensa o candidato do Movimento para o Socialismo (MAS), afirmando que a contagem oficial de 98% dos boletins lhe fornecem 46,83%, contra 36,7% para Carlos Mesa, da aliança Comunidade Cidadã.
O sistema eleitoral boliviano concede a vitória ao candidato com pelo menos 50% mais um dos votos, ou acima de 40% mas com dez pontos de vantagem sobre o segundo. Caso não alcancem estas percentagens, os dois mais votados disputam uma segunda volta.
As restantes sete candidaturas obtiveram percentagens muito baixas, com o terceiro lugar para o pastor presbiteriano de origem coreana Chi Hyun Chung, do Partido Democrata-Cristão, com 8,83%, e o quatro para o senador Óscar Ortiz da Aliança A Bolívia Diz Não.
Os restantes candidatos surgem com percentagens abaixo dos 3%, e muitos com menos de 1%, sem alcançarem o mínimo estabelecido para conservar a sua personalidade jurídica como partidos políticos.
Mesa já advertiu que não reconhecerá um resultado que exclua uma segunda volta contra Morales e denunciou uma “gigantesca fraude” por parte da comissão eleitoral a favor do Presidente cessante, que se candidata a um quarto mandato consecutivo.
Por sua vez, o chefe de Estado boliviano tem considerado que as denúncias da oposição constituem uma tentativa de “golpe de Estado” para lhe impedir a vitória na primeira volta.
Os protestos foram desencadeados na segunda-feira, com incêndios nas sedes do órgão eleitoral em diversas regiões e confrontos entre apoiantes e detratores do Presidente, e com a polícia.
O Presidente Evo Morales tem prevista para hoje de manhã (hora local), uma conferência de imprensa na sede do Governo em La Paz.
Além do Presidente e vice-Presidente, os bolivianos também votaram para eleger 130 deputados, 36 senadores e nove governadores — um por cada departamento do país –, que integrarão a Assembleia Legislativa para o período 2020-2025, atualmente controlado com uma maioria de dois terços pelo MAS de Evo Morales.
A decisão de Morales em apresentar-se a um quarto mandato apesar do “não” no referendo de fevereiro de 2016, foi muito criticada por diversos setores da sociedade boliviana e da oposição, que alertaram para uma deriva autocrática no caso de nova vitória.
No poder há 13 anos, Morales tornou-se no primeiro Presidente indígena e de esquerda do país andino, mas diversos casos de corrupção nos círculos próximos do poder e as denúncias de viragem autoritária também desgastaram a sua imagem, apesar de permanecer muito popular.
Os apoiantes do MAS, no poder, e os membros da oposição, com alguns a apelarem à “rebelião”, prometeram descer à rua no caso de vitória do campo rival.
Os gigantescos incêndios que devastaram em agosto e setembro uma zona quase do tamanho da Suíça provocaram a indignação de povos indígenas, que acusam Evo Morales de ter sacrificado a Pachamama, Terra-mãe em língua quéchua, para alargar as terras agrícolas e aumentar a produção de carne destinada à China.
Os ambientalistas também questionam uma recente lei que autoriza o aumento de cinco para 20 hectares da desflorestação por queimadas.
Por sua vez, Morales fez uma campanha centrada nos sucessos da economia (crescimento elevado, forte redução da pobreza, nível recorde de reservas internacionais) e que tornou a Bolívia no país com a maior taxa de crescimento da região.
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