“Pode ser fazendeiro, pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONG”, declarou o Presidente brasileiro ao sair do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Questionado se teria provas para fundamentar as suas afirmações, Bolsonaro voltou a negar e argumentou porque não há provas: “Ninguém escreve isso, vou queimar lá, não existe isso. Se você não pegar em flagrante quem está queimando e buscar quem mandou fazer isso, que isso está acontecendo, é um crime que está acontecendo”.
“São os índios, quer que eu culpe os índios? Vai escrever os índios amanhã? Quer que eu culpe os marcianos? Há, no meu entender, um indício fortíssimo de que esse pessoal da ONG perdeu a teta [expressão usada no Brasil sobre pessoas que recebem recursos públicos] deles. É simples”, acrescentou.
A acusação polémica do chefe de Estado brasileiro contra as ONG que trabalham na preservação do ambiente no país foi divulgada na última quarta-feira.
Em resposta, o Observatório do Clima, coligação de cerca de 50 organizações não-governamentais brasileiras em prol do ambiente, afirmou que o recorde de queimadas no país reflete a irresponsabilidade de Bolsonaro.
“O fogo reflete a irresponsabilidade do Presidente com o bioma [conjunto de ecossistemas] que é património de todos os brasileiros, com a saúde da população da Amazónia e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso”, declarou o grupo em comunicado.
O observatório considerou que “as queimadas são apenas o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do Governo de Jair Bolsonaro e do seu ministro do Meio Ambiente, o ímprobo Ricardo Salles, que turbinou o aumento da taxa de desflorestação no último ano”.
A coligação de ONG salientou que, desde que assumiram os seus mandatos, Bolsonaro e Salles têm “desmontado as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização”.
Extinção de órgãos responsáveis por planos de controlo da desflorestação na Amazónia, cortes de verbas dedicadas à proteção ambiental, redução de ações de fiscalização e a suspensão do Fundo Amazónia foram alguns dos exemplos citados pelo grupo.
“A combinação de autoritarismo e fanatismo ideológico do Presidente e do seu ministro transformam em fumaça não apenas as árvores da Amazónia e a reputação do Brasil, mas também o bem-estar de uma população que o Governo federal deveria proteger e o nosso acesso a mercados internacionais e a investimentos”, conclui o Observatório do Clima.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, com base em imagens de satélite, indicam que as queimadas no Brasil aumentaram 82% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018.
Na segunda-feira, uma nuvem de fumo produzida por queimadas no Paraguai, Bolívia e também na região amazónica dentro do território do Brasil transformou o dia em noite na cidade de São Paulo, onde o céu pareceu escurecer pouco depois das 15:00 locais.
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