Um porta-voz dos bombeiros declarou à AFP que "há focos de chamas", mas que já não existem "áreas particularmente preocupantes".

"Estamos numa situação melhor na frente", disse Costas Tsigkas, chefe da associação de bombeiros gregos, à televisão estatal ERT nesta terça-feira.

Centenas de bombeiros, com 200 camiões e nove aeronaves, foram mobilizados para lutar contra o incêndio, que começou no domingo no município de Varnavas, cerca de 35 quilómetros a nordeste de Atenas.

O corpo de uma mulher moldava foi encontrado dentro de uma fábrica incendiada e pelo menos 71 pessoas, incluindo cinco bombeiros, necessitaram de atendimento médico devido às chamas.

Alimentado por ventos fortes, o incêndio mais grave desde o início do ano na Grécia destruiu edifícios e veículos em mais de 10.000 hectares das imediações da capital grega.

Segundo a Proteção Civil grega, cerca de 100 casas sofreram danos graves.

Em resposta a um pedido de ajuda internacional do governo grego, França, Itália, Chéquia, Roménia, Sérvia e Turquia enviaram centenas de bombeiros, helicópteros, camiões e aviões para o combate às chamas, informaram as autoridades.

Apesar da mobilização dos bombeiros, as chamas avançaram na segunda-feira pelo Monte Pentelicus, que domina a cidade, e avançaram pelos subúrbios da capital, onde vivem dezenas de milhares de pessoas.

As autoridades emitiram dezenas de ordens de evacuação para moradores da região e várias instalações desportivas, incluindo o Estádio Olímpico de Atenas, foram abertas para acomodar pessoas deslocadas.

O autarca de Chalandri declarou à ERT que viu quase uma dezena de casas destruídas pelas chamas. "O fogo percorreu 50 quilómetros e mudou de direção 10 vezes", disse Simos Roussos. Os governantes de Penteli e Varvanas, onde o incêndio começou, também relataram dezenas de residências destruídas nestas áreas. O Ministério do Interior concordou em distribuir 4,7 milhões de euros entre os oito municípios afetados.

"Nunca, num milhão de anos, pensei que um incêndio chegaria aqui", afirmou Sakis Morfis, de 65 anos, diante perante a sua residência reduzida a cinzas em Vrilissia, uma cidade no subúrbio de Atenas. "Estamos sem roupas, sem dinheiro, tudo ardeu dentro de casa", lamentou.

Com grande parte da capital coberta pelo fumo durante dois dias consecutivos, cientistas relataram um aumento alarmante de partículas danosas no ar, especialmente entre domingo e a noite de segunda-feira.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, garantiu que a instituição está "preparada para ajudar a atender às necessidades urgentes de saúde das comunidades afetadas". "Todos os dias somos recordados pela crise climática", escreveu ele na rede social X.

O risco de incêndios continua muito elevado para esta quarta-feira, sobretudo no norte da Grécia, alertaram os bombeiros em comunicado.

A gestão do incêndio gerou críticas ao governo conservador por parte da imprensa da Grécia, país especialmente vulnerável a esses eventos.

"Já chega", clamava a capa do jornal centrista Ta Nea, o mais vendido da Grécia. O jornal liberal Kathimerini apontava que o incêndio "descontrolado" "deixou uma ampla destruição e perguntas sem resposta".

"Evacuem Maximou", dizia o jornal de esquerda Efsyn, referindo-se ao edifício que abriga o gabinete do primeiro-ministro da Grécia. Muitos outros jornais, inclusive o pró-governo Eleftheros, falavam de um "pesadelo".

O primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, interrompeu as suas férias em Creta para regressar à capital no domingo. "Fazemos tudo o que podemos para melhorar a cada ano, mas, infelizmente, as condições estão cada vez mais difíceis", disse após uma reunião de gabinete nesta terça-feira.

Cerca de 200 pessoas protestaram à frente do Parlamento nesta terça-feira. "Queimaram-nos! Governo, ministros, são responsáveis por este crime", dizia uma faixa.

Este novo desastre trouxe à memória os incêndios de julho de 2018 em Mati, uma área costeira perto de Maratona onde 104 pessoas morreram numa tragédia depois atribuída a erros e atrasos nas evacuações.

A atual temporada de incêndios na Grécia tem causado focos quase diários no país, que registou o seu inverno e os seus meses de junho e julho mais quentes desde o início da recolha de dados confiáveis em 1960.

Os cientistas alertam que as emissões de combustíveis fósseis agravam a duração, a frequência e a intensidade das ondas de calor em todo o mundo.