“O talude não estava bem, porque as fissuras encontravam-se a dilatar e havia escorrimento de humidades, águas provenientes, provavelmente, das valetas da própria estrada”, revelou hoje à agência Lusa o investigador e historiador Carlos Filipe.

O mesmo responsável referiu que as valetas da via “deviam estar a remanescer toda a quantidade de água para as massas que estavam por detrás dos blocos”, indicando que se desconhecia a composição dos materiais.

A situação, disse, foi vista em fevereiro deste ano e há cerca de um mês, no âmbito do projeto “Património e História da Indústria dos Mármores”, desenvolvido, desde 2012, pelo Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património (CECHAP), de Vila Viçosa.

Segundo o investigador e historiador, o projeto contou também com a participação de especialistas de outras áreas de especialidade, como história, património e arqueologia, e envolveu “muitas fotografias, cartografia e georreferenciação”.

“Hoje, temos uma noção clara do risco que ali se estava a correr”, realçou Carlos Filipe, do CECHAP e que integra o projeto, mas vincou que a equipa não tinha “a capacidade de determinar” a existência de um perigo real.

“Não somos de geologia, nem da engenharia, mas, de qualquer das formas, era um caso que merecia uma atenção permanente”, assinalou, observando que “a largura da via correspondia ao talude da pedreira”.

Carlos Filipe defendeu que “ninguém pode dizer que desconhecia, pelo menos, na especialidade, a realidade daquele lugar”, alegando que a situação se encontrava “assim há mais de 40 anos” e estava descrita no Plano Regional de Ordenamento do Território da Zona dos Mármores (PROZOM).

Esse plano estudou essa zona “como nenhum outro lugar em Portugal e todos os estudos do subsolo, incluído as vias, estão nos relatórios que passaram por todas as entidades”, acrescentou.

O deslizamento de um grande volume de terras e o colapso de um troço da estrada entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, para o interior de poços de pedreira ocorreu na segunda-feira às 15:45.

Segundo as autoridades, o colapso de um troço de cerca de 100 metros da estrada terá arrastado para dentro da pedreira contígua, com cerca de 50 metros de profundidade, uma retroescavadora e duas viaturas civis, um automóvel e uma carrinha de caixa aberta.

Na terça-feira à tarde foi retirado o corpo de um dos dois mortos confirmados, havendo ainda três pessoas dadas como desaparecidas.