Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico, poderá estar a preparar-se para uma revolução na BBC, a emissora pública britânica. Um fonte próxima do governo do Reino Unido, citada pelo ‘Sunday Times’, diz que Johnson quer transformar o atual modelo de taxa audiovisual e transformá-lo num serviço de subscrição — à semelhança das ofertas OTT (over the top, designação que abrange serviços que são fornecidos sobre a rede de telecomunicações), como a Netflix.
Atualmente, os britânicos têm de pagar a taxa de televisão obrigatória, que custa 154,5 libras por ano, qualquer coisa como 185,68 euros. Esse valor, sabe-se já, vai aumentar em abril para os 189, 2 euros. Entretanto, Nicky Morgan, a ministra da Cultura, disse que vai lançar uma consulta sobre a possibilidade de descriminalizar o não pagamento.
Mas, para além da mudança na forma de pagamento, a BBC, que se alarga da televisão à rádio, poderá ainda perder a maioria das estações de rádio, diminuir o número de canais de televisão, reduzir a página na internet — para além de proibir as estrelas de ganhar dinheiro com trabalhos extra, explica o ‘Guardian’.
O jornal britânico diz que o ataque pode ser visto como uma escalada nas hostilidades entre o executivo conservador e a BBC — uma revanche motivada pelo facto de “muitos Tories ainda estarem chateados com a cobertura às eleições gerais do ano passado”.
“Não estamos a fazer ‘bluff’ nisto da taxa. Estamos a fazer consultas e vamos acabar com ela. Tem de ser um modelo por subscrição. Eles têm centenas de rádios, têm todos estes canais de TV e um enorme website. Tudo isto precisa de uma enorme poda”, disse fonte citada pelo ‘Sunday Times’.
“Deviam ter alguns canais de televisão, um par de rádios e uma reduzida presença online”, continua a mesma fonte. Tudo isto para que sejam empenhados “mais dinheiro e esforço no World Service [Serviço Internacional], que é parte do seu principal trabalho. O primeiro-ministro acredita firmemente que é necessário haver uma reforma séria”.
Estas mudanças estão a ser aventadas depois de o ‘chairman’ da BBC, David Clementi, ter defendido fortemente o sistema atual de pagamento, lembra o ‘Guardian’. Clementi alertou que barrar o acesso aos conteúdos da emissora com uma ‘paywall’ põe em causa a capacidade de “reunir o país”.
O ataque chega também às estrelas da BBC. Pessoas próximas de Boris Johnson criticam os profissionais da emissora bem pagos que, para além disso, ganharam dinheiro a trabalhar por fora, sugerindo que devem ser obrigados a doar esses dinheiro para caridade.
“É revoltante que pessoas cujo perfil é feito à custa de dinheiro público procurem ganhar mais recompensas financeiras e ganhos pessoais”, disse uma fonte ao jornal. “Basicamente, estão a construir os seus nomes à conta dos contribuintes e a ganhar com isso. A BBC devia travar esta prática imediatamente e dar o dinheiro para boas causas”, prossegue.
Entretanto, as reações sucedem-se. John Simpson, jornalista que está há 53 anos na emissora pública britânica, partilhou na rede social Twitter um vídeo a explicar a importância da taxa de televisão para o sustento da BBC. Fê-lo, diz, porque como cidadão britânico, [tem] medo do movimento crescente para desmembrar a BBC e refazer o setor da radiotelevisão do Reino Unido à imagem da FOX TV”, o canal de televisão dos Estados Unidos onde só vão passando as ideias mais conservadoras e de direita.
A ideia de fazer da BBC uma coisa mais parecida com a FOX News tem sido falada por Dominic Cummings, figura importante no gabinete de Johnson, que está por trás de alguns confrontos com a imprensa.
Em janeiro, lembra o ‘Público’, quis mandar embora de uma conferência na residência oficial do primeiro-ministro os repórteres que não tinham sido especificamente convidados. Os jornalistas recusaram a chantagem, avisando que ou ficavam todos — ou saíam todos.
Todavia, como o jornal português recorda, os ataques à emissora pública britânica não são um monopólio da direita política.
Também da esquerda chegam críticas de que BBC tem um preconceito contra Jeremy Corbyn, o líder dos Trabalhistas, principal partido da oposição.
Mas nem toda a gente quer desmontar a emissora. O deputado Conservador Huw Merriman escreveu no Twitter que não tem a certeza “de que esta vingança contra a BBC acabe bem”, lembrando que a ideia não está no programa votado em dezembro, anunciando que não vai apoiar a medida.
Já Damian Green, que foi ministro da ex-primeira-ministra Conservadora Theresa May, espera que o artigo do ‘Sunday Times’ “seja apenas um ensaio”, lembrando também que a medida não estava no programa. “Seria vandalismo cultural. Votem nos ‘tories’ e fecharemos a BBC Radio 2. A sério?”, questiona, no Twitter.
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