A informação foi divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral, com o escrutínio provisório (99,99% das urnas apuradas) a apontar para 21% de abstenção do total de eleitores inscritos (mais de 147,3 milhões).

"Somos declarados vencedores desse pleito, seguindo ensinamento de Deus", disse Jair Bolsonaro, no primeiro discurso depois de ser eleito 38.º Presidente da República Federativa do Brasil na noite de domingo, através de um vídeo partilhado na sua página do Facebook.

O capitão do Exército na reserva, candidato pelo Partido Social Liberal (PSL), afirmou que existem "condições de governabilidade" e agradeceu ao povo brasileiro, a quem apelou "vamos juntos cumprir a nossa missão".

"Vamos juntos mudar o destino do Brasil", apelou, na mesma intervenção.

Mais tarde, numa declaração à imprensa à porta da sua casa, no Rio de Janeiro, prometeu que o seu Governo “será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”.

Defensor da ditadura militar – regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 -, Jair Messias Bolsonaro nasceu a 21 de março de 1955 (63 anos) e iniciou a carreira política como uma figura caricata de posições extremas e discursos agressivos em defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.

Chamado de “mito” e “herói” pelos seus apoiantes e de “perigo à democracia” por críticos e adversários, Jair Bolsonaro está na política brasileira há 28 anos e foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes consecutivas, mas sem nunca ter ocupado um cargo importante no Parlamento.

Bolsonaro ganhou notoriedade nos últimos anos e transformou-se num líder capaz de mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão económica da história do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo em que as lideranças políticas tradicionais do país têm sido envolvidas em escândalos de corrupção.

O candidato presidencial do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), Fernando Haddad, afirmou na noite de domingo, após serem conhecidos os resultados que evidenciavam a sua derrota, que os mais de 45 milhões de eleitores que votaram na sua candidatura presidencial, “têm outro projeto de Brasil na cabeça” e apelou à “coragem” do povo nos próximos quatro anos.

“Talvez o Brasil nunca tenha precisado mais do exercício da cidadania do que agora. Eu coloco a minha vida à disposição deste país, tenho a certeza que falo por milhões de pessoas”, afirmou Haddad, numa intervenção de cerca de oito minutos, durante a qual nunca se referiu Jair Bolsonaro.

“A soberania nacional e a democracia como nós a entendemos é um valor que está acima de todos nós. Nós temos uma nação, nós temos que defendê-la daqueles que de forma desrespeitosa pretendem usurpar o nosso património, o património do povo brasileiro”, disse ainda Fernando Haddad.

O eurodeputado João Pimenta Lopes, que esteve na sede candidatura de Haddad no Brasil, na noite de domingo, disse que "o ambiente é de não baixar os braços, de afirmar a grande importância deste resultado [do candidato Fernando Haddad], como uma forma também de dizer que estarão presentes e que seguirão num processo de resistência",

O Presidente brasileiro ainda em funções, Michel Temer, mostrou-se convicto de que o seu sucessor, Jair Bolsonaro, "fará um governo de paz e harmonia" que o Brasil precisa.

"Tenho a convicção de que o Presidente eleito fará um governo de muita paz e harmonia que é o que o nosso país necessita", disse Temer numa conferência de imprensa no Palácio do Planalto, sede da Presidência da República.

Temer afirmou já ter cumprimentado o Presidente eleito e que percebeu, através do seu entusiasmo e das declarações que Bolsonaro já fez ao país, que "busca a unidade, a pacificação e harmonia do país que seguramente todos desejam".

Jair Bolsonaro venceu as eleições também com os votos da maioria da comunidade emigrante brasileira.

Em Portugal, o candidato da extrema-direita ganhou com larga maioria em Lisboa e no Porto, faltando ainda contar os resultados do consulado de Faro.

Mal foi anunciada a vitória de Bolsonaro, as reações de líderes da América e de alguns países da Europa não se fizeram esperar.

O chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, telefonou ao recém-eleito Presidente do Brasil para o felicitar pela vitória nas eleições de domingo.

"Recebemos há pouco ligação do Presidente dos EUA, @realDonaldTrump nos parabenizando por esta eleição histórica!", escreveu Bolsonaro no Twitter.

"Manifestamos o desejo de aproximar ainda mais estas duas grandes nações e avançarmos no caminho da liberdade e prosperidade", lê-se no mesmo 'tweet'.

O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, também felicitou Jair Bolsonaro pela sua vitória nas eleições presidenciais do Brasil, e apelou à retoma das “relações diplomáticas de respeito e harmonia” entre os dois países vizinhos.

O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou no domingo uma "mensagem de felicitações" a Jair Bolsonaro, na qual se referiu aos "laços de fraternidade" bilaterais e à "significativa comunidade de portugueses e lusodescendentes residentes no Brasil, bem como à cada vez mais importante comunidade brasileira” em Portugal.

O primeiro-ministro, António Costa, cumprimentou, em nome do Governo português, o Presidente eleito do Brasil, salientando a relação bilateral "intemporal" entre os dois países, assente numa língua comum" e "fortes laços históricos".

Chile, Argentina, Paraguai e Perú congratularam-se com a vitória de Bolsonaro, bem como Itália e Espanha.

O juiz federal brasileiro Sérgio Moro, responsável pela prisão do ex-Presidente Lula da Silva (PT), também felicitou Jair Bolsonaro pela sua vitória nas eleições presidenciais e defendeu a necessidade de reformas na economia e administração pública.

“Encerradas as eleições, cabe congratular o Presidente eleito e desejar que faça um bom Governo”, disse Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato, citado pelo jornal brasileiro O Estado de São Paulo.

Apesar de a extrema-direita brasileira ter vencido as presidenciais, os partidos de esquerda saíram reforçados nas eleições para os governos regionais, conquistando mandatos em nove dos 27 estados do Brasil.

Fundado pelo ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), atualmente preso e condenado a 12 anos de prisão por corrupção, o PT conseguiu quatro governados, o maior número de mandatos regionais obtidos por uma formação política e o Partido Socialista do Brasil (PSB) ganhou em três estados.

O PT venceu na Bahía, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, estados do nordeste de Brasil, a região mais pobre do país onde está fortemente implantado o "petismo", mas perdeu o Acre, um dos seus mais antigos redutos eleitorais, bem como o governo de Minas Gerais.