Assinada pelos ingleses Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, e Ken Livingstone, ex-presidente da Câmara de Londres, e pelos norte-americanos Noam Chomsky, linguista e filósofo, o cineasta Oliver Stone, o ex-especialista independente das Nações Unidas para a democracia Alfred de Zayas, o congressista democrata Ilhan Omar e Mark Weisbrot, do Centro de Estudos em Política Económica de Washington, a carta alerta para o uso político da PF em 2022, ano de eleições presidenciais.

São mencionadas no texto a recente operação da PF na residência do ex-governador do Ceará Ciro Gomes, em 15 de dezembro último, e a prisão do ex-presidente Lula da Silva, em 2018, ambos apontados como possíveis candidatos às presidenciais do próximo ano.

“Essa operação de busca e apreensão [em casa de Ciro] sinaliza um novo e perigoso momento na corrida para as eleições presidenciais do Brasil em outubro de 2022. A Polícia Federal, diretamente sob o controlo do Presidente Bolsonaro — e com fações ainda leais ao ex-juiz Sergio Moro, o juiz corrupto que prendeu Lula em 2018 e agora também concorre à presidência —, agora serve para intimidar os oponentes de Bolsonaro na eleição”, diz a carta.

A redação da carta foi organizada pelo deputado federal David Miranda e partiu da ideia de pedir a políticos e intelectuais estrangeiros, “amigos do Brasil e defensores da liberdade política”, que redobrem a vigilância sobre Bolsonaro, para que o chefe de Estado não faça uso do seu cargo para travar a oposição, como afirma ter ocorrido em 2018 com a prisão de Lula.

“Os amigos do Brasil em todo o mundo devem expressar a sua consternação com o uso descarado da Polícia Federal para fins de assédio político. Apelamos a todos os que se preocupam com o Brasil e com a causa da liberdade política no mundo a redobrar a sua vigilância contra o uso do poder governamental para conter a oposição a Bolsonaro. O Brasil nunca precisou mais de nós”, conclui a missiva.

Jair Bolsonaro encontra-se sob investigação por alegada interferência na PF para favorecer familiares e aliados políticos, num inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil.

A investigação foi aberta em abril de 2020 depois de o ex-ministro da Justiça Sergio Moro acusar o chefe de Estado de pressionar e interferir ilegalmente na Polícia Federal, o que levou o Ministério Público a pedir autorização ao STF para interrogar Bolsonaro.

A investigação procura esclarecer se Bolsonaro pressionou ou tentou interferir política e ilegalmente na PF, órgão responsável por investigações de corrupção contra dois dos filhos do Presidente: o senador Flávio Bolsonaro e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.