Lula já fez questão de lembrar que nunca venceu eleições à primeira volta, mas a nota pouco descansa aqueles que saíram à rua para fazer a festa do Partido Trabalhista à primeira volta, como previam algumas das sondagens.

Bolsonaro e vários dos seus apoiantes surpreenderam na primeira volta das eleições brasileiras ao disputar cada voto, não apenas na presidência, mas para os cargos de governador e nos assentos Câmara dos Deputados e do Senado. E foi renhido.

Com 99,99% dos votos apurados, Lula conquistou 48,43% e Bolsonaro 43,20%. Separam-nos cerca de seis milhões de votos.

Com um surpreendente terceiro lugar, mas com apenas 4,16% dos votos, ficou a candidata Simone Tebet. Já Ciro Gomes foi o quarto mais votado, com 3,04%. A incógnita passa agora por saber qual a posição dos candidatos da chamada "terceira via" nesta segunda volta. Ficarão em silêncio ou mobilizarão o seu eleitorado para o voto em Lula da Silva?

Tebet diz que tem decisão tomada, mas vai esperar pelo partido; Ciro pediu "algumas horas" para deliberar, mas assume que nunca viu "uma situação tão complexa, tão desafiadora e potencialmente ameaçadora sobre a nossa sorte enquanto nação".

"Para desgraça de alguns tenho mais 30 dias para ir para a rua. Adoro fazer campanha, adoro fazer comício" e "vai ser importante porque será a chance de fazermos um debate com o Presidente da República. Acho que é uma segunda chance que o Bolsonaro me dá", afirmou.

Mais comedido, Jair Bolsonaro disse ter vencido a “mentira” das sondagens que lhe davam apenas 36% nas intenções de voto e antecipavam a possibilidade de Lula da Silva ser eleito à primeira volta.

Olhando para estas eleições, Bruna Santos, do Instituto Brasil do Wilson Center, um centro de análise em Washington, citada pela AFP, arrisca mesmo dizer que "o bolsonarismo venceu o primeiro turno". O motivo?

Feitas as contas, pelo menos nove ex-ministros de Bolsonaro tiveram vitórias nas urnas. Além disso, o Partido Liberal (PL) encaminha-se para ter a maior bancada na Câmara dos Deputados, segundo os analistas, e no Senado, personalidades do PL e grupos aliados obtiveram pelo menos 14 dos 27 lugares em disputa.

Recorde-se que este domingo, além do próximo presidente e do vice, os eleitores votaram em governadores dos 26 estados e do Distrito Federal, nos 513 membros da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, de 81 assentos, assim como nos deputados das assembleias legislativas estaduais.

Estas eleições também deram algumas vitórias às causas progressistas, tendo sido eleitas as primeiras deputadas transexuais do Brasil: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).

"Vão ser mais 15 dias de batalha para enfrentar o bolsonarismo, mas também serão mais quatro anos de batalha dentro da Câmara", disse Erika Hilton, ao comemorar a sua eleição.

"Mesmo com ataques de setores da esquerda, ataques dos ciristas, ameaças de morte da ultradireita, vencemos! Muito obrigada, MG!", escreveu Duda Salabert.

E estas não foram as únicas candidatas que se identificam como mulheres trans ou travestis a ter votações expressivas.

A próxima batalha

Bolsonaro, ex-capitão do Exército, de 67 anos, concentrou a sua estratégia de campanha nos valores morais ("Deus, pátria, família"), um discurso patriótico, com ataques ao seu adversário, a quem chama de "ladrão" e "ex-presidiário".

O incumbente conta com um apoio sólido entre o eleitorado evangélico brasileiro, que representa um terço dos eleitores, no setor do agronegócio e nos setores populares que não perdoam o Partido dos Trabalhadores de Lula pelos escândalos de corrupção.

Mas o presidente Bolsonaro teve um mandato marcado pela gestão turbulenta da pandemia, que deixou 686.000 mortos, um avanço da pobreza e da fome, níveis recorde de desmatamento na Amazónia, suspeitas de irregularidades em torno da sua família e aliados, e ataques contra as instituições judiciais e a imprensa.

Lula, por seu lado, contava conquistar com ampla folga neste domingo um terceiro mandato, apoiado pelas classes populares, pelas mulheres e os jovens, após ter governado o país entre 2003 e 2010, e ter deixado o poder com um invejável índice de popularidade de quase 90%.

Mas o ex-presidente não conseguiu superar aos olhos de boa parte da sociedade a mácula da corrupção. Foi julgado e depois conseguiu a anulação das suas condenações por motivos processuais na operação Lava Jato, que investigou um esquema de subornos na Petrobras.

"Os resultados de hoje vão forçar Lula a cortejar os eleitores de centro e, inclusive, os conservadores de forma mais agressiva nas próximas quatro semanas", antecipa Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.

Os brasileiros antecipam agora uma batalha que vai ser "desafiadora e bastante cansativa. Esse é o sentimento".

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