No primeiro dia útil após a saída do Reino Unido do bloco europeu, na sexta-feira, Michel Barnier, que liderou as negociações em nome dos 27 para o ‘Brexit’ e agora dirigirá o processo negocial sobre as relações futuras, apresentou em conferência de imprensa, na sede do executivo comunitário, a proposta de mandato para as negociações, cujo calendário, lembrou, “é muito exigente”, pois o período de transição termina no final deste ano e Londres já anunciou que não pretende prolongá-lo.
“Na última sexta-feira à noite, o Reino Unido saiu da União Europeia. Foi um momento grave, muito grave, e um momento de emoção, mas é também o momento para uma nova partida, uma nova relação, porque o nosso objetivo é construir com esse grande país vizinho, amigo, aliado uma nova parceria”, começou por dizer.
Apontando que o mandato que hoje a Comissão propõe “não apresenta surpresas”, pois “está a ser discutido há muito” e os “objetivos foram fixados em conjunto” com os 27 Estados-membros, com o Parlamento Europeu e com o próprio governo britânico de Boris Johnson, Barnier anunciou que a UE está disposta a oferecer ao Reino Unido um “acordo comercial altamente ambicioso como pilar central da nova parceria, incluindo tarifas zero e quotas zero para todos os bens” que entrem no mercado único europeu, “de 450 milhões de pessoas”.
Barnier sublinhou que a UE está disposta a negociar este acordo abrangente “mesmo sabendo que haverá grande concorrência entre o Reino Unido e a UE no futuro”, mas advertiu que a União exige em troca garantias, até porque, “a concorrência é normal, mas devido à proximidade geográfica e interdependência económica [entre UE e Reino Unido], esta oferta excecional está condicionada a pelo menos dois aspetos: há que assegurar que a concorrência é e se mantém aberta e justa, e o acordo comercial deve incluir um acordo de pescas que garanta reciprocidade no acesso a mercados e águas”.
“Se concordarmos nisso, conseguiremos um acordo comercial ambicioso e livre”, afirmou.
Barnier destacou ainda assim que é preciso compreender que o Reino Unido não pode aspirar a ter o que teve durante os 47 anos de adesão à União, pois “a melhor relação com a UE é ser membro da UE e, não sendo membro, a relação será sempre menos favorável”.
“A escolha de deixar a União Europeia está feita”, reiterou Barnier, que também recordou a intransigência do Reino Unido em eventualmente prolongar o período de transição, o que significa que no final do corrente ano os britânicos deixarão o mercado único e a união aduaneira, com ou sem acordo sobre as relações futuras.
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