“Nós fazíamos parte, ou fazemos parte ainda, de um pilar mais Atlântico, Euro-atlântico na União Europeia, que junta Portugal, Irlanda, Reino Unido, Dinamarca, Holanda. Depois Espanha e França, apesar de serem atlânticos, têm tantos outros interesses mediterrânicos e mais continentais”, disse a líder centrista na conferência “Portugal e a Europa em tempos de ‘Brexit’”, que decorreu na Assembleia da República, em Lisboa.
Na opinião da centrista, “com a saída do Reino Unido há um vazio e Portugal deve ser o primeiro a querer preencher esse vazio”.
“Portugal deve ser a voz do Atlântico na União Europeia, deve congregar os outros países, a Irlanda, a Dinamarca, a Holanda e deve querer liderar. O problema é que Portugal, muitas vezes, não quer liderar e quer simplesmente ir de arrasto e ir atrás daquilo que os outros estão a fazer”, salientou, criticando o Governo.
Assunção Cristas defendeu que “Portugal pode e deve liderar, deve ocupar este espaço”, mas também “deve depois manter as suas relações bilaterais com o Reino Unido”.
Porém, essas relações devem ser mantidas “no contexto europeu”, referiu.
“Quando previsivelmente teremos uma continentalização da própria União Europeia, Portugal deve ser essa voz dissonante no bom sentido, porque acrescenta alguma coisa à própria União Europeia, e esse acrescento é a dimensão atlântica, é a abertura ao mundo, é uma certa lógica e uma certa visão de relacionamento com o resto do mundo, que nem todos têm, e que para nós é bastante evidente”, apontou a presidente do CDS-PP, advogando que isto é “bastante específico de alguns países e Portugal é um desses países”.
Cristas reforçou também que gostaria de ter “ouvido mais vezes” o Governo nacional a dizer que Portugal “quer ter boas relações” com o Reino Unido e não castigar aquele país após a saída.
Porém, “ninguém percebeu qual é a posição do Governo português”, disse, considerando que o executivo “tem feito pouco” face “ao que outros estão a fazer”.
Por isso, a centrista defendeu que o Governo, liderado pelo socialista António Costa, deverá “olhar para isto como uma oportunidade” e aproveitar para “fazer o país crescer com isso”.
Também o cabeça-de-lista do CDS-PP às eleições europeias de 26 de maio, e atual eurodeputado, Nuno Melo, participou na conferência por videochamada.
O candidato considerou que “o ‘Brexit’ é uma tragédia para o Reino Unido, mas é uma tragédia também para a União Europeia”, e salientou que “as incertezas são tremendas”.
Nuno Melo vincou também que atualmente a União Europeia é “primeira economia mundial”, mas com a saída do Reino Unido “vai deixar de o ser”.
Também a líder do CDS-PP assinalou a perda de “uma potência comercial” e de “uma potência na área da defesa”.
“Deixamos de ter uma voz no Conselho de Segurança das Nações Unidas, deixamos de ter uma potência nuclear na União Europeia”, elencou, notando que a Europa perde muito e fica “mais pobre”.
Por isso, foi taxativa: “com certeza que, se pudéssemos decidir, tentaríamos ao máximo que a decisão não fosse esta”.
“Como não podemos influenciar a decisão - e se pudermos acho que o devemos fazer, com toda a franqueza - em qualquer circunstância, devemos sempre trabalhar com o plano de saída, e isso significa aproveitar este espaço vazio, aproveitar esta oportunidade e não estar à espera daquilo que serão as decisões do Governo do Reino Unido para depois adaptarmo-nos, adequarmo-nos e irmos sempre atrás da carruagem”, advogou.
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