“A minha prioridade vai ser [dar] atenção aos direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido, mas também, naturalmente, aos cidadãos do Reino Unido que vivem nos 27” Estados-membros da União Europeia, admitiu hoje João Vale de Almeida à margem da conferência “Desafios da Europa em Transição”, que se realizou de manhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
“O acordo de saída contém medidas que foram acordadas entre o Reino Unido e os Estados da UE, trata-se agora de aplicar no terreno essas medidas, de garantir aos cidadãos todos os direitos, de ajudar os cidadãos europeus no Reino Unido a preencher os requisitos que lhes permitam ficar”, explicou, lembrando que existem “muitos milhares, se não milhões, de cidadãos europeus no Reino Unido”.
As negociações sobre os direitos e a forma de os aplicar no terreno serão realizadas em conjunto com as embaixadas dos 27 Estados-membros, acrescentou.
Sublinhando que “a saída do Reino Unido é uma decisão dos britânicos” que tem de ser respeitada, o diplomata congratulou-se com o acordo já conseguido.
“Felizmente, chegámos a um acordo negociado”, o que permite que “a saída do Reino Unido aconteça esta semana em grande tranquilidade”, referiu
Agora, apontou João Vale de Almeida, “começa uma nova etapa”.
“Temos de construir uma relação futura e eu vejo, quer do nosso lado – da União Europeia -, quer do lado do Reino Unido, um grande empenhamento em construir algo ambicioso, algo que corresponda aos interesses da UE e do Reino Unido”, disse.
“O mundo está em transição, nalguns aspetos em rotura, os nossos valores estão, em alguns casos, a ser postos em causa. É fundamental que países que têm tanto em comum como os 27 e o Reino Unido consigam chegar a plataformas de entendimento ambiciosas e substanciais”, defendeu o embaixador.
A nova relação que será construída é, aliás, a segunda prioridade da agenda de João Vale de Almeida.
“A segunda prioridade é começar a construir a relação futura. Vamos iniciar negociações, provavelmente em março, com vista a essa negociação futura, um acordo entre os 27 da UE e os britânicos e aí vamos ver o que podemos pôr em cima da mesa”, referiu, adiantando apenas que a atitude da União Europeia é de “grande disponibilidade” e de “vontade de chegar a acordos substanciais e ambiciosos”.
Essencial na relação futura é, para o embaixador, “ter um acordo comercial”.
“Vamos ver qual é a dimensão desse acordo, quais são as modalidades desse acordo, vamos ver em quanto tempo seremos capazes de o alcançar, mas agora vamos começar e daqui a uns meses veremos em que situação estaremos”, disse.
João Vale de Almeida sublinhou ainda que este ano não será marcado por nenhuma mudança essencial, além de o Reino Unido deixar de fazer de estar presente no processo de decisão da União Europeia.
“Tudo o resto se mantém inalterado”, garantiu, referindo que “as grandes alterações vão acontecer a partir de 01 de janeiro de 2021”.
Essas grandes alterações vão ser “o resultado da negociação que formos fazendo ao longo deste ano”, explicou, admitindo que “é difícil antecipar o que é que conseguimos fazer no prazo de um ano”.
O embaixador da UE no Reino Unido lembrou ainda que “a Europa a 27 continuará a ser a segunda maior economia do mundo, o maior mercado do mundo, continuará a ser o maior investidor estrangeiro no mundo, a principal fonte de ajuda ao desenvolvimento e de ajuda humanitária”.
Mesmo sem a presença do Reino Unido, a União Europeia continuará “a ser uma grande potência internacional”, garantiu, admitindo que fosse preferível manter o país no bloco.
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