"De acordo com o nosso estatuto, vocês são 'funcionários da União Europeia'. Vocês deixaram os 'chapéus' nacionais à porta quando entraram para esta instituição. Hoje, essa porta não vos vai ser fechada", prometeu na sexta-feira o presidente da Comissão Europeia, numa carta em inglês, francês e alemão.

Uma promessa que ainda não dissipou os receios de Robert, um britânico casado com uma francesa e que trabalha nas instituições europeias em Bruxelas: "Vou enviar os documentos para adquirir a nacionalidade francesa", afirma em declarações à AFP.

O Código do Trabalho dos funcionários da UE deve, de facto, provocar preocupação entre os britânicos. De acordo com o artigo 49, "o funcionário só pode ser obrigado a renunciar ao cargo se deixar de cumprir as condições estabelecidas no artigo 28 a)" que estipula que "nenhuma pessoa será nomeada funcionária se não for cidadã de um Estado-membro, excepto em caso acordado pela autoridade responsável pela nomeação".

No passado, várias exceções foram feitas, revelam duas fontes europeias. Desta forma, dinamarqueses foram empregados antes da adesão do seu país à UE, assim como há noruegueses que são funcionários, apesar de o país não fazer parte dos 28 Estados-membros.

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Na sua carta, Juncker assegurou que "vai trabalhar com os presidentes de outras instituições europeias" para "continuar a beneficiar do notável talento, experiência e compromisso" dos funcionários britânicos.

Segundo dados oficiais, 1.164 britânicos trabalham atualmente para a Comissão Europeia, uma percentagem de 3,5% de um total de 32.966 funcionários da UE. Um contingente relativamente pequeno quando comparado aos cidadãos belgas (com 5.400 funcionários), seguidos pelos italianos (3.858) e pelos franceses (3.193), de acordo com estatísticas da Comissão.

Se somarmos as outras instituições europeias - Conselho Europeu, Parlamento, Tribunal de Contas, as várias agências, etc. - o número chega a 2.000, estima Felix Géradon, vice-secretário-geral da União Sindical, o principal sindicato dos funcionários da UE.

Funcionários competentes

As reformas desses funcionários também podem representar alguns problemas. "Pode imaginar-se que, se os cidadãos britânicos permanecerem como funcionários da UE, os outros 27 Estados-membros vão desejar a participação de Londres no financiamento das suas reformas", observa Felix Géradon.

E para cargos de poder de decisão, a questão do futuro é ainda mais particular. "Mesmo que alguma coisa seja negociada, todos entendem que não vai haver possibilidade de promoção para os britânicos", considera uma inglesa que trabalha na Comissão Europeia. "Vi colegas chorar", afirmou.

"São pessoas competentes, bem formadas. Não há exemplos de maus funcionários britânicos", elogia um francês da Comissão Europeia. "É também a nação mais poderosa para entrar na função pública europeia. Os seus cidadãos cresceram muito em termos de carreira", constata esta mesma fonte. O objetivo do Reino Unido não era ter o maior número de funcionários, mas sim "as pessoas certas nos lugares certos" para locais-chave, tais como o mercado interno, finanças ou política externa, explica.

Atualmente, de cada direção-geral da Comissão - a posição mais alta da administração da UE - os britânicos ocupam apenas dois cargos, contra cinco dos franceses e seis dos alemães. "Foi talvez uma antecipação dos últimos tempos: não confiar tais cargos aos britânicos", comenta uma fonte da Comissão Europeia.

O britânico Johnathan Faull, que comandou a task force encarregue do referendo no Reino Unido, está desde sexta-feira sem função. Uma fonte europeia afirma que este antigo porta-voz da Comissão, perto da reforma, poderia vir a substituir o seu compatriota Jonathan Hill, o Comissário de Serviços Financeiros que, "muito desapontado", renunciou na semana passada.

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