Os argumentos multiplicam-se e variam consoante os interesses de cada grupo. A partir das ideias das campanhas, o Economist reuniu os principais argumentos defendidos.
Em termos comerciais
Os defensores do “Sim” à manutenção do país na União Europeia alegam que o Reino Unido, enquanto membro da UE, evita o pagamento de tarifas de exportação, além de uma significativa burocracia em termos comerciais, o que faz com que 45% das exportações britânicas sejam feitas dentro da UE. Como membro, o Reino Unido pode obter melhores condições comerciais por causa da dimensão da UE, que neste momento é constituída por 28 países.
Os defensores do “Não” alegam que a saída do Reino Unido abre portas à negociação de uma nova relação comercial do país com a UE, sem estar limitado pela legislação deste organismo. Além disso, o Reino Unido fica livre para estabelecer acordos comerciais com outros países, como por exemplo a China, a Índia ou os Estados Unidos.
Em termos de orçamento europeu
Os defensores do “Sim” recordam que o Reino Unido contribui com 340 libras (cerca de 435 euros) por ano, por agregado familiar, para o orçamento da UE, em comparação com cerca de 3000 libras (cerca de 3835 euros) que pode ter de pagar se não for membro a título de benefício anual de adesão. Para que um país possa ter acesso ao mercado único tem sempre de pagar uma determinada verba, sendo que o montante é significativamente mais elevado no caso dos não-membros.
Os defensores do “Não” alegam que, fora da União Europeia, o Reino Unido não terá de enviar todas as semanas para Bruxelas o valor equivalente a metade do orçamento destinado às escolas do país, valor estimado como a contribuição do país para o orçamento europeu.
Em termos de regulamentação
Os defensores do “Sim” alegam que a maioria das diretivas da UE prevalece sobre as normas dos 28 países, reduzindo a burocracia e beneficiando os negócios. O Reino Unido, mantendo-se na UE, pode lutar por uma melhor regulamentação, que beneficie o país.
Os defensores do “Não” alegam que o Reino Unido, ao deixar a UE, pode voltar a ter poder decisivo em áreas chave como o emprego, a saúde e a segurança.
Em termos de imigração
Os defensores do “Sim” alegam que deixar a união de países não vai reduzir o número de imigrantes no país. Os números mostram que outros países, fora da UE, e mesmo países da união de países europeus, têm uma taxa de imigração mais elevada do que o Reino Unido.
Os defensores do “Não” alegam que a saída deixa o caminho livre para que o Reino Unido possa alterar a política de portas abertas para cidadãos da UE, que consideram uma política cara e fora do controlo, e bloquear a vinda de imigrantes fora da UE.
Em termos de influência
Os defensores do “Sim” alegam que, em termos de presença em cimeiras internacionais, o Reino Unido tem uma dupla representação, pois além do ministro de estado, há sempre um alto representante europeu. Esta cooperação ajudou, por exemplo, a combater o Ébola ou a pirataria em África.
Os defensores do “Não” alegam que o Reino Unido tem pouca influência dentro da UE. Uma potencial saída possibilita a luta por cargos em instituições internacionais de relevo; além disso, o país pode passar a ter uma maior influência em termos comerciais e de cooperação entre países.
Veja também: Reino Unido de saída da União Europeia? Quase metade dos britânicos diz que sim
Sim e Não: duas causas com rosto
Entretanto, algumas personalidades de relevo na vida pública britânica já tomaram partido pelo sim ou pelo não.
Do lado do “Sim” está um apoiante de peso. O primeiro-ministro David Cameron acredita numa reforma da União Europeia (UE) e já veio dizer que vai fazer uma campanha “com todo o meu coração e com toda a minha alma para convencer o povo britânico a permanecer numa União Europeia reformada".
Quem também apoia a reforma da UE é a ministra do interior Theresa May, que alega que "a UE não é perfeita e este acordo deve ser parte de um processo contínuo de mudança e reforma, mas o interesse nacional é continuar a ser um membro da união. Muitos britânicos acreditaram que a ministra iria fazer campanha pelo “Brexit”, mas May menteve-se ao lado do primeiro-ministro.
Além da reforma da UE, os benefícios de se fazer de uma união de países em termos económicos também pesam para quem defende o “Sim”. “A UE traz investimentos, emprego e proteção aos trabalhadores e aos consumidores britânicos", afirma Jeremy Corbyn, líder dos Trabalhistas, o principal partido da oposição britânico. Por essa razão, Corbyn não deixa margem para dúvidas: "Faremos campanha para que o Reino Unido permaneça na Europa no próximo referendo”.
Mas não são apenas os Trabalhistas a apoiar este argumento. Também a Confederação da Indústria Britânica (CBI, na sigla em inglês) relembra que as reformas aprovadas pela UE "protegem o espaço e influência do Reino Unido dentro do mercado único e dão uma nova ênfase à competitividade da UE, o que ajudará as empresas britânicas a criar empregos e a gerar crescimento económico nos próximos anos", defendeu Carolyn Fairbairn, diretora geral da CBI. A apoiar a posição da confederação estão várias empresas nacionais, como é o caso da BP.
Um grupo de empresários, onde se destacam os líderes de grupos como Marks & Spencer, EasyJet, Shell ou Vodafone, assinaram uma carta aberta publicada no Times onde expressam preocupação por ver o Reino Unido eventualmente fora da UE. No entanto, outros líderes de empresas de peso, como os supermercados Tesco e Sainsbury’s, não assinaram a carta.
Também Nicola Sturgeon, a primeira-ministra escocesa e líder do Partido Nacionalista Escocês, reiterou no sábado o apoio à permanência na UE. Mas deixou o aviso de que, no caso de um "Brexit", pode solicitar um novo referendo sobre a independência da Escócia.
Nesta segunda-feira, o responsável da Europol, Rob Wainwright, manifestou também a sua preocupação relativamente a questões de segurança que uma possível saída do país pode trazer. Ao falar sobre o nível de cooperação dos serviços britânicos com a UE, Wainwright relembra que “se pegarmos nessa infraestrutura que a polícia britânica tem ajudado a projetar ao longo dos últimos 40 anos e deixarmos de a ter, então o trabalho do Reino Unido para conseguir proteger os cidadãos da ameaça do terrorismo será muito mais difícil”, disse, citado pela Reuters.
Estas declarações vêm no seguimento da entrevista de Iain Duncan Smith, ministro britânico do Trabalho e das Pensões, dada à BBC no fim de semana, em que alega que a permanência na UE aumenta o risco de ataques terroristas semelhantes ao que aconteceu em Paris.
O rosto do “Não” é Boris Johnson, o carismático presidente da Câmara de Londres e candidato à sucessão de David Cameron. No domingo afirmou que esta é uma "oportunidade única" para conseguir uma "verdadeira mudança" para o país.
Cinco ministros conservadores e uma secretária de estado uniram-se no sábado à campanha pela saída da UE. Denominado pelo jornal "The Guardian" como o “gangue dos seis”, o grupo foi fotografado com um cartaz onde se pode ler a mensagem “vamos recuperar o controlo”.
O ministro do Trabalho e Pensões, Iain Duncan Smith, a responsável britânica para a Irlanda do Norte, Theresa Villiers, o titular da pasta da Cultura, Meios de Comunicação e Desporto, John Wittingdale, o líder da Câmara dos Comuns, Chris Grayling, e a secretária de Estado para o Emprego, Priti Patel, anunciaram que não apoiam a linha oficial do Governo, que defende a permanência na UE.
Michael Gove, que é amigo pessoal de Cameron, admitiu aos media que a comunicação da sua posição foi "a decisão mais difícil" da sua vida política mas assume que esta é uma oportunidade que "não surge duas vezes nas nossas vidas. Por essa razão, vou permanecer fiel aos meus princípios e vou aproveitar a oportunidade deste referendo para abandonar uma UE presa no passado".
Zac Goldsmith, o candidato conservador à Câmara de Londres, e um eurocético assumido, também faz parte do grupo de políticos a assumir a defesa pelo “Não”. O líder do partido anti-imigração Ukip, Nigel Farage, que sempre defendeu a saída do Reino Unido do bloco europeu também já assumiu a sua posição.
"Vote Leave", uma campanha que tem o apoio do grupo "Conservatives for Britain", constituído por elementos eurocéticos do Partido Conservador, já começou a fazer campanha pelo “Não”, assim como a "Leave.EU", que foi a primeira campanha pró "Brexit" lançada no Reino Unido. Esta campanha conta com o apoio de Nigel Farage, líder do Partido de Independência do Reino Unido, que anunciou há alguns dias que se uniu ao grupo Grassroots Out, que tem aspirações em ser escolhido pela Comissão Eleitoral para coordenar oficialmente a campanha.
Comentários