Alexandre Rodrigues mostra-se entusiasmado com os primeiros resultados da legislação que proibiu o uso de sacos de plástico não degradável, em vigor no país desde 2017.
Apesar de não abranger todos os plásticos, atinge aqueles que são de uso mais comum em Cabo Verde, ou seja, os sacos de compras, conhecidos como “bolsas”.
Os sacos agora vendidos nas superfícies comerciais são biodegradáveis e decompõem-se na natureza no espaço de seis a 18 meses, reduzindo assim o problema dos plásticos que vão dar ao mar.
“Esta iniciativa vai efetivamente reduzir a quantidade de plásticos, mas ainda vai levar o seu tempo para produzir efeitos, porque estamos a falar de plásticos acumulados há muito tempo”, disse.
Alexandre Rodrigues refere que hoje em dia já é possível ver em Cabo Verde “uma franja bastante interessante da população que utiliza sacos reutilizáveis”.
“É preciso mais campanhas de sensibilização, é preciso que haja mais alternativas no mercado, em mais superfícies comerciais, é preciso massificar isto para que se consiga a redução e quem sabe a eliminação das bolsas de plástico”, adiantou.
Segundo o diretor nacional do Ambiente, as medidas não vão ficar por aqui: “Estamos a avaliar esta legislação e novas medidas serão tomadas quando se achar que é conveniente e que estão ajustadas com os nossos padrões de consumo”.
“Não podemos comparar os nossos padrões de consumo com os da Europa”, disse, referindo-se ao anúncio da União Europeia de proibir os cotonetes e as palhinhas a partir de 2021.
Isto porque, em Cabo Verde, o consumo de materiais como os copos de plástico em festas ou as palhinhas é muito menor e há mesmo campanhas internas a apelar à redução destes consumos.
O país depara-se, contudo, com outros problemas como o elevado uso de garrafas pet, tendo em conta que uma parte significativa da população não bebe água canalizada por esta ser dessalinizada, ainda que potável.
“O simples ato de utilizar uma garrafa de plástico para beber água já é uma coisa que terá de ser um foco também importante nas próximas lutas, porque as garrafas pet também proliferam pelo nosso país. Felizmente existem alternativas, empresas que fazem recolha para depois fazer a reciclagem”, referiu.
Alexandre Rodrigues acredita que uma maior sensibilização da população irá continuar a dar frutos, até porque um anúncio que ficou mundialmente conhecido sobre o impacto dos plásticos nos peixes mostrou que este era ainda um problema desconhecido.
O filme “O Restaurante” foi gravado com câmaras escondidas e regista a reação de pessoas que escolhem peixe para a refeição, mas são servidas com vários plásticos no lugar da comida, mostrando assim que é deste material que os peixes se alimentam, devido à quantidade de lixo que existe no mar, nomeadamente plástico.
Lançada no ano passado, esta ação de consciencialização do Ministério da Economia Marítima cabo-verdiano a favor dos oceanos vai ter continuidade.
“Via-se que muitas pessoas não sabiam que o plástico ia parar aos oceanos e acabavam por fazer parte da cadeia alimentar dos peixes”, disse Alexandre Rodrigues.
Sobre a presença dos microplásticos nas águas de Cabo Verde, o diretor nacional do Ambiente disse que este está a ser alvo de uma investigação universitária e que deverá traçar um diagnóstico da situação.
Em relação à resposta ao lixo que invade a ilha cabo-verdiana de Santa Luzia, a única desabitada e reserva natural do país, onde foram identificados plásticos oriundos de pelo menos 25 países, Alexandre Rodrigues referiu que, com a ajuda de organizações ambientalistas, o Governo vai continuar a retirar o lixo, que ameaça várias espécies na ilha.
A Organização de Pequenas Ilhas Sustentáveis, à qual Cabo Verde se associou, está a ajudar o país a trabalhar nesta questão do lixo.
Uma resposta possível passará por envolver neste combate os países que produzem o lixo que vão parar a esta ilha.
“Não conseguimos evitar que os lixos cheguem, só podemos limpar, mas com esta organização vamos ver que medidas vamos tomar e que ações podemos fazer e ver como podemos envolver os países que produzem este lixo que chega à costa de Santa Luzia e como podemos envolver todos numa parceria”.
Alexandre Rodrigues não tem dúvidas: “É um problema internacional, global, tem de ser tratado de uma forma global. Cabo Verde sozinho não vai conseguir tratar sozinho do problema dos lixos”.
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