A libertação dos detidos, a que assistiu um jornalista da agência noticiosa France-Presse (AFP), ocorreu na prisão de Bagram, 60 quilómetros a norte de Cabul, onde os Estados Unidos mantêm uma base militar, e da cadeia de Pul-e-Charkhi, no leste da capital afegã.
“Estou muito satisfeito por ter sido agora libertado. Irei juntar-me à minha família após oito longos anos. Queremos um cessar-fogo permanente no país. Se as tropas estrangeiras partirem não nos bateremos mais”, afirmou Abdul Wasi, talibã de 27 anos, que residia na província de Kandahar, no sul do Afeganistão.
No total, segundo o tenente-coronel Nazifullah Walizada, que supervisionou a operação em nome do Ministério da Defesa afegão, foram libertados cerca de 900 prisioneiros.
O Conselho Nacional de Segurança, órgão governamental, tinha anunciado de manhã a iminência das libertações, destinadas a “permitir avanços na causa da paz e na extensão do cessar-fogo”.
“Esperamos que os talibãs decidam prolongar o cessar-fogo para que possamos desatar o processo de paz. O futuro depende da próxima decisão dos talibãs”, disse, depois, o porta-voz do Conselho, Faisal Javid numa conferência de imprensa.
Contactados pela AFP, os insurgentes mostraram-se “muito otimistas” em relação à questão, indicando inicialmente que cerca de 200 membros das “forças de administração de Cabul” detidos seriam libertados nos próximos dias.
Uma segunda fonte indicou, pouco depois, considerou “muito provável” prolongar o cessar-fogo por sete dias se o Governo acelerar a libertação dos prisioneiros.
“Todos os nossos dirigentes (…) estão praticamente de acordo” com o prolongamento do cessar-fogo, acrescentaram várias fontes.
No entanto, Zabihullah Mudjahid, porta-voz e a voz oficial dos talibãs, declarou não dispor de “qualquer informação” sobre a libertação.
Os rebeldes, que tinham multiplicado durante várias semanas os ataques mortíferos contra as forças afegãs, surpreenderam sábado passado ao decretar unilateralmente uma paragem nos combates para que os cidadãos possam “celebrar, em paz e em conforto” o Eid El-Fitr, que assinala o fim do Ramadão.
O Presidente afegão, Ashraf Ghani, aceitou imediatamente a oferta e, no domingo, deu início ao um procedimento para a libertação de “até 2.000 prisioneiros talibãs”.
Ghani, sublinhou o porta-voz presidencial, Sediq Sediqqi, considerou a decisão como um “gesto de boa vontade, em resposta ao anúncio unilateral de cessar-fogo dos talibãs.
Centenas de talibã tinham sido já libertados segunda-feira.
As libertações recíprocas de prisioneiros — até 5.000 talibãs contra 1.000 militares das forças afegãs — ficaram previstas e definidas num acordo assinado a 29 de fevereiro em Doha entre Washington e os Talibãs, mas não ratificado por Cabul.
A troca de prisioneiros, porém, foi encontrando vários obstáculos ao longo das semanas seguintes, com o retomar dos confrontos.
O Acordo de Doha prevê também a retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão em 14 meses, com a condição de que os insurgentes respeitem os compromissos em matéria de segurança e de encetarem negociações com as autoridades afegãs sobre o futuro do país.
O cessar-fogo, o primeiro da iniciativa dos talibãs desde que a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos os retirou do poder, em 2001, tem sido largamente respeitado, apesar de algumas escaramuças.
É a segunda interrupção dos combates no Afeganistão desde 2002.
A primeira, da iniciativa de Ghani, durou três dias em junho de 2018, também devido ao final do Ramadão, tendo-se assistido, na altura, a cenas de confraternização entre combatentes dos dois campos.
Os talibãs também respeitaram uma trégua parcial de nove dias entre 22 de fevereiro e 02 de março, por causa da assinatura do Acordo de Doha.
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