“Obviamente que vou passar à qualidade de independente, porque fui eleito pelos açorianos”, justificou o, até agora, líder parlamentar do Chega, em declarações aos jornalistas na sede do parlamento açoriano, na Horta, depois de, em Ponta Delgada, o presidente do partido, André Ventura, anunciar que o deputado deixava de representar o partido na Assembleia Regional.
Carlos Furtado, que se queixou de ter sido alvo de “ataques pessoais por parte de dirigentes do Chega”, prometeu manter, como independente, os acordos de incidência parlamentar que o Chega assumiu após as eleições regionais, com o atual governo de coligação PSD, CDS e PPM.
Com Carlos Furtado como independente, o Chega, que alcançou dois mandatos nas eleições regionais de outubro de 2020, mantem um deputado na Assembleia Legislativa dos Açores.
O PS venceu as eleições legislativas regionais, mas perdeu a maioria absoluta que detinha há 20 anos, elegendo 25 deputados.
PSD, CDS-PP e PPM, que juntos representam 26 deputados, assinaram um acordo de governação. A coligação assinou ainda um acordo de incidência parlamentar com o Chega e o PSD um acordo de incidência parlamentar com o Iniciativa Liberal (IL).
Com o apoio dos dois deputados do Chega e do deputado único do IL, a coligação de direita somou 29 deputados na Assembleia Legislativa dos Açores, um número suficiente para atingir a maioria absoluta, o que levou à indigitação de José Manuel Bolieiro como presidente do Governo Regional, no dia 07 de novembro de 2020.
Hoje, Carlos Furtado notou que o resultado eleitoral obtido pelo Chega nas eleições legislativas regionais de outubro (5,2% dos votos), se deveu, em parte, à figura do líder nacional do partido, André Ventura, mas também ao trabalho feito na região, pela estrutura regional do partido, que permitiu concorrer a sete dos nove círculos de ilha.
André Ventura anunciou hoje que o Chega retirava a confiança política ao líder parlamentar do Chega nos Açores, manifestando o desejo de que Carlos Furtado renunciasse ao mandato.
Carlos Furtado lamentou a decisão da estrutura nacional do partido e queixou-se de ter sido alvo de ataques pessoais por parte de dirigentes do Chega, que lamentou nunca terem sido admoestados por isso.
“Até há pouco, eu era a segunda figura mais importante do partido, era o segundo deputado eleito pelo partido, e a desconsideração que fui tendo por parte do partido nacional é que fui sendo alvo de vários ataques pessoais por parte de militantes de má-fé do partido”, revelou.
De acordo com Carlos Furtado, “apesar das inúmeras sugestões que foram feitas, nunca foi feita a devida admoestação desses militantes”.
André Ventura anunciou hoje a intenção de reunir com o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, no sentido de clarificar o ponto de situação sobre o acordo de incidência parlamentar que existe na Região, subscrito pelo Chega.
Carlos Furtado entende que as declarações de André Ventura, a este propósito, revelam, uma vez mais, a “ingerência” da direção nacional do Chega em relação aos Açores, acusando mesmo o líder partidário de estar a fazer “chantagem com os Açores”.
“André Ventura está a aproveitar, outra vez, o momento para fazer chantagem com os Açores, e isso não é certo. Não é assim que se fazem as coisas”, criticou.
O deputado esclareceu que as acusações de que foi alvo, de alegada proximidade com o PSD, não fazem sentido.
“Não tenho andado a mendigar as atenções, por parte do PSD, como o André Ventura tem feito com o PSD a nível nacional”, alertou.
Questionado pelos jornalistas sobre o assunto, à margem de uma visita à Escola do Mar, na Horta, o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, disse que não comenta a vida interna de outros partidos.
Sobre a reunião que Ventura disse querer ter com Bolieiro, o presidente do Governo Regional esclareceu que o encontro ainda não aconteceu por falta dificuldade de agenda, referindo que se vai realizar logo que houver possibilidade.
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