A totalidade dos seis autocarros que fazem parte da carreira nº 702 que liga a Serafina, junto à estação de comboio de Campolide a paredes meias com o Aqueduto das Águas Livres e o Marquês de Pombal, em Lisboa, utilizam somente biodiesel produzido a partir da reciclagem de óleos alimentares usados. O anúncio foi feito pela CARRIS, empresa pública de transportes, e pela PRIO, empresa portuguesa produtora de biocombustíveis durante uma apresentação aos jornalistas do projeto "Movido a Biodiesel".
"É um combustível feito a partir de óleos alimentares das cantinas industriais e das cozinhas de restaurantes e, também, domésticas". A descrição foi feita por Emanuel Proença, administrador da PRIO durante uma viagem no autocarro nº702. "Óleo inclui o azeite de uma salada, ou de uma fritura, de um Bacalhau à Brás", explicou ao SAPO24.
"É um produto que leva 12 anos de investigação e desenvolvimento em Aveiro, na nossa fábrica, com ligação a universidades e feito dentro de casa para garantir que é igual ao gasóleo", adiantou. "E a experiência mostra isso. Tem performances iguais. E é ultra-sustentável". 100% livre de energia fóssil, o biocombustível (B100) é produzido na fábrica da PRIO no Porto de Aveiro e permite "reduzir em 83% as emissões de gases de efeito de estufa", garante a empresa, em comunicado.
Decorrido o período de "quase um ano" deste projeto-piloto, "passámos dos três autocarros para a totalidade dos seis que fazem este percurso, autocarros devidamente sinalizados", explica Tiago Farias, presidente do conselho de administração da CARRIS, que acompanhou os jornalistas na viagem de cerca de 30 minutos (Serafina-Marquês de Pombal-Serafina), num percurso de cerca de sete quilómetros.
Até agora este projeto-piloto entre as duas empresas serviu para comparar o uso de "gasóleo versus bio" e para que a CARRIS garantisse, com utilização desta nova matéria-prima, a "fiabilidade mecânica", verificasse o "impacto a nível de consumo" e operacionalizasse as "componentes a afinar", sustentou o gestor público. De resto, Tiago Farias fez questão, no gesto de entrada num dos autocarros parte integrante desta viagem de apresentação, validar o título de transporte (que, diga-se, deu um sinal encarnado, o que o levou a exclamar: "parece que não está a funcionar").
Motor silencioso, menos gases, menos força e 10 mil litros mês
Ricardo Robles, motorista, salienta as diferenças sentidas entre os dois autocarros, gasóleo normal e o biodiesel 100% livre de energia fóssil. "O motor é mais silencioso", garante. "Há menor libertação de gases, mas há também um pouco menos força do motor", algo que em nada perturba a normalidade de um percurso com "algumas subidas". Já a nível de consumo, "é um pouco superior, mas nada extraordinário".
O investimento feito nesta mudança de paradigma foi "reduzido" e o custo do biocombustível é "ligeiramente maior", admite o responsável máximo da CARRIS. Se a nível total de toda a frota de "700 autocarros", os consumos andam à volta de "1 milhão de litros de combustível por mês", nos autocarros de biodiesel foram consumidos "10 mil litros, por mês, pouco mais de 100 mil litros, no total", durante o período em causa, pormenoriza.
O balanço feito até à data foi "positivo" e a carreira 702 irá, "nos próximos meses operar na totalidade e em pleno" com o B100 feito a partir de óleos alimentares usados, durante a segunda fase do projeto-piloto. Uma fase em que a empresa pública continuará a "sensibilizar as pessoas para importância de reciclar óleos alimentares que podem fazer parte de uma matéria-prima que serve para mobilidade sustentável em Lisboa", alerta. "A população está sensibilizada, mas há potencial de melhoria e otimização", garante Emanuel, da PRIO.
CARRIS verde na totalidade até 2040. Autocarros elétricos, a gás e renovação dos elétricos, novos e históricos
O administrador da PRIO diz que a empresa tem "capacidade de resposta para equipar a frota toda" da CARRIS. Do lado da empresa pública, Tiago Farias, traça um rumo: "descarbonização da frota feita através de combustíveis mais limpos e eletrificação da frota", atira. Um caminho que irá "até 2040", ano em que quer ter uma frota "de zero emissões", incluindo nesse desiderato "autocarros elétricos, elétricos carril e movidos a gás natural", frisa.
"Temos 15 autocarros elétricos que estão a ser testados para fazer parte da operação em 2020. E temos programado lançar concurso para adquirir mais 30", garante. Nos elétricos de carril, aos 10 existentes, denominados articulados, depois de lançado o concurso público, "que decorre", querem juntar "15, mais que duplicando a frota", esperando que seja uma realidade "de entregas faseadas", a partir do "segundo semestre de 2021". Em relação aos elétricos, ditos históricos (nº28, por exemplo) "estamos a equacionar comprar mais 10". "Havendo potenciais fornecedores, que há, [pretendemos] lançar o concurso em 2020", destes "novos-velhos", finaliza.
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