“Trabalhava muito”, disse o ex-governante em resposta às perguntas do Ministério Público (MP), após Alexandra Pinho ter declarado que era o marido que lhe dava as instruções para movimentar a conta para a qual eram transferidos cerca de 15 mil euros mensais provenientes do Grupo Espírito Santo (GES), sublinhando: “Dormia uma hora e meia, acordava bem-disposto, mas não tinha cabeça para tudo. A minha vida de ministro foi um pesadelo”.
Durante a primeira parte da sessão de hoje do julgamento, Alexandra Pinho disse ao tribunal que nunca foi beneficiária das sociedades 'offshore', limitando-se a movimentar a conta enquanto Manuel Pinho estava no Governo por instrução do marido.
“Era a única relação que tinha com essa conta. Era o poder movimentar, por ser necessário ao meu marido que eu fizesse os movimentos. Ele é que dava as instruções, que eu transmitia telefonicamente [ao gestor de conta]”, referiu, preferindo então que fosse depois Manuel Pinho a explicar por que razão não movimentava diretamente a conta da Tartaruga Foundation.
Manuel Pinho concluiu hoje as declarações iniciais, com as questões do MP e da sua defesa, e voltou também a defender que as decisões tomadas enquanto tutelou a Economia no primeiro Governo liderado por José Sócrates, entre 2005 e 2009, não foram segundo os interesses do GES e do ex-banqueiro Ricardo Salgado, como alega a acusação.
O ex-ministro deu como exemplo a venda de parte do capital da Galp, que acabou por ir para as mãos do grupo Amorim, apesar de o BES estar ligado a outro conjunto de interessados.
“O BES ficou fora do setor do gás e do petróleo para todo o sempre. Imagine-se por um minuto que o GES se tinha tornado acionista da Galp?”, questionou, reafirmando ainda as decisões tomadas em relação à Brisa ou à Ryder Cup, apontados pelo MP como alegados casos de favorecimento de Pinho aos interesses do GES.
O julgamento prossegue na terça-feira de manhã no Juízo Central Criminal de Lisboa com as audições das testemunhas Joaquim Goes e Rui Silveira, ambos ex-administradores do BES.
Manuel Pinho, em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal.
A sua mulher, Alexandra Pinho, está a ser julgada por branqueamento e fraude fiscal - em coautoria material com o marido -, enquanto o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, responde por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento.
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