Ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao caso das crianças tratadas com um dos medicamentos mais caros do mundo, Victor Almeida disse que não prometeu “ajuda a ninguém” nem teve qualquer iniciativa “no sentido de ordenar o que quer que fosse”, nomeadamente a marcação da consulta na unidade hospitalar privada em Lisboa, que esteve prevista para 05 de dezembro de 2019 e acabou por não acontecer, pois foi desmarcada pouco tempo depois, tendo as crianças sido seguidas no Serviço Nacional de Saúde.

O responsável pelo Grupo Lusíadas Saúde afirmou várias vezes na audição que durou cerca de uma hora que nunca lhe foi pedido a marcação de uma consulta, apenas o contacto da médica Teresa Moreno e que também não teve conhecimento do agendamento feito há cinco anos.

“Eu não marquei nenhuma consulta, eu não desmarquei nenhuma consulta. Só me foi solicitado um pedido de contacto de uma médica”, adiantou, explicando que não tem credenciais, no sistema interno, para o fazer, nem tem acesso a informação de quem o poderá ter feito e esclareceu que as consultas podem ser marcadas de várias formas.

O diretor comercial da Lusíadas Saúde desde 2009 disse que o empresário José Magro, com quem integrou a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, lhe pediu o contacto da neuropediatra que viria a tratar as crianças no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Acompanhado pelo seu advogado, Victor Almeida disse aos deputados que não chegou a responder e que recebeu, passados uns dias, um email da mãe das crianças (com conhecimento de José Magro) com o mesmo pedido, que encaminhou para o Hospital Lusíadas Lisboa.

Perante os deputados, o diretor comercial disse que na altura não teve conhecimento de que a mãe das crianças tivesse contratado um seguro com a companhia brasileira Amil Assistência Médica Internacional, que era do mesmo universo dos Lusíadas, e que também não tem conhecimento “se houve poupança” para a seguradora.

O engenheiro disse ainda que nunca que não conhece o filho do Presidente da República.

“Nunca me cruzei com Nuno Rebelo de Sousa. Não conheço Nuno Rebelo de Sousa, no âmbito da Câmara [de Comércio e Indústria Luso-Brasileira], nem de outro sítio qualquer”, nem a sua mulher, Juliana Drummond, referiu.

O diretor comercial indicou ainda que não tem informação sobre se mais pessoas com apólice naquela seguradora brasileira vieram a Portugal receber tratamentos e que o empresário José Magro “não tem qualquer tipo de ingerência” na Lusíadas Saúde.

Em 25 de outubro, o empresário José Magro, que tinha “uma relação próxima” com Victor Almeida, disse que a sua intervenção neste caso foi apenas pedir o contacto da médica Teresa Moreno.

José Magro indicou também que sugeriu a Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, que fosse enviado um email para o diretor comercial da Lusíadas Saúde a mencionar o caso e o interesse em contactar a médica.

No início da reunião, o presidente da comissão de inquérito informou que o Chega forçou o prolongamento do prazo por mais 90 dias, tal como anunciado por André Ventura aos jornalistas na quarta-feira.

Rui Paulo Sousa indicou que a comissão de inquérito deverá estender-se até “meio de março” e indicou também que os trabalhos serão suspensos entre 20 de dezembro e 06 de janeiro.