A investigação, publicada pela revista científica britânica Lancet, estima igualmente que as mortes anuais aumentem 85% no mesmo período, para quase 700.000 (375.000 em 2020), sobretudo entre os homens dos países de rendimento médio-baixo (PRMB), adianta a revista em comunicado, em que admite que “os números reais serão provavelmente muito superiores aos registados devido ao subdiagnóstico” e a falhas na recolha de dados nestes países.

A análise é da Comissão sobre Cancro da Próstata da Lancet e será apresentada no sábado no 39.º Congresso Anual da Associação Europeia de Urologia, que decorrerá de 5 a 8 de abril em Paris (França).

As mortes causadas por cancro da próstata diminuíram desde meados da década de 1990 na maioria dos países de rendimento elevado (PRE), mas nos PRMB em geral o número de casos tem vindo a aumentar e a taxa de mortalidade a subir.

Este tumor maligno “é uma das principais causas de morte e incapacidade, representando 15% de todos os cancros masculinos”. Em mais de metade dos países é o mais comum nos homens. Os principais fatores de risco da doença são ter mais de 50 anos e antecedentes familiares.

“À medida que mais e mais homens em todo o mundo vivem até à meia-idade e à velhice, haverá um aumento inevitável no número de casos de cancro da próstata”, disse Nick James, especialista em cancro da próstata e da bexiga no Instituto de Investigação do Cancro em Londres, na liderança da comissão da Lancet, citado no comunicado.

O também oncologista clínico conselheiro do hospital especializado no tratamento do cancro The Royal Marsden defendeu a urgência de planeamento e de medidas, como melhores programas de educação e de deteção precoce, que, acrescentou, “ajudarão a salvar vidas e a evitar problemas de saúde causados pelo cancro da próstata”.

Em relação aos PRMB, a comissão considera também necessário aumentar “a sensibilização para os perigos e sintomas do cancro da próstata metastático”, assim como para o facto dos tratamentos, incluindo alguns de baixo custo (como a terapia hormonal), poderem prolongar a sobrevivência e diminuir o sofrimento, acrescentando que alguns dos tratamentos “estão disponíveis” em muitos destes países, devendo ser melhorada a sua disponibilização e o acesso dos doentes.

Por outro lado, os PRMB precisam de pessoal e de instalações especializadas – tendo em conta que a melhor terapia para este tumor exige profissionais com formação específica e infraestruturas para apoiar o diagnóstico, por exemplo ao nível da cirurgia e da radioterapia — o que, segundo a comissão, poderia passar pela criação de centros regionais.

James N’Dow, catedrático de Cirurgia na Universidade de Aberdeen (Escócia) e fundador da Horizons Trust (Gâmbia), para o desenvolvimento dos cuidados de saúde na África Subsaariana, considerou que “a questão nos países de rendimento médio-baixo é que o diagnóstico tardio do cancro da próstata é a norma”.

Assinalou que “o aumento do número de casos e mortes por cancro da próstata pode ter enormes impactos económicos e sociais” naqueles países, dado que os homens “são muitas vezes o principal sustento da família”, podendo esta enfrentar “grandes dificuldades (…) se morrerem ou ficarem gravemente doentes”.

A comissão chama ainda a atenção para a “necessidade global de programas de deteção precoce novos e melhorados”, argumentando haver “provas que sugerem” que o recurso ao teste Antigénio Específico da Próstata (PSA na sigla em inglês), utilizado frequentemente no rastreio ao tumor nos países de rendimento elevado, “leva ao excesso de testes em homens idosos de baixo risco, mas não aumenta a deteção do cancro da próstata em homens mais jovens com maior risco”.

Destaca igualmente as “enormes variações na probabilidade de os homens serem diagnosticados com cancro da próstata avançado com a estratégia do teste de PSA”.

Assim, os especialistas recomendam no caso dos PRE “a utilização de exames de ressonância magnética em combinação com testes ao PSA para rastrear homens com alto risco de cancro da próstata, tais como aqueles com história familiar da doença, os de origem africana e os que possuem mutação do gene BRCA2”, alegando que “esta abordagem reduziria o excesso de diagnóstico e de tratamento, ao mesmo tempo que detetaria doenças potencialmente letais”.

Ressalvam, no entanto, que as biópsias são o método mais eficaz na identificação de cancros agressivos.

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