"Este professor tem sido particularmente frontal, desempoeirado e descomplexado na forma como emite as suas opiniões, e hoje foi muito claro, disse que a estratégia do Governo está completamente errada desde o início porque não planeia, não prevê e anda constantemente a reboque dos acontecimentos. O que os portugueses têm de saber é se de cada vez que há um especialista que discorda da condução política do Governo, se esse especialista vai ser ou não afastado das funções de aconselhamento e de planeamento científico da pandemia", afirmou o presidente centrista.

Francisco Rodrigues dos Santos falava aos jornalistas na Assembleia da República, no final de uma audiência com o Presidente da República, que decorreu por videoconferência, e depois da reunião desta manhã com os epidemiologistas, no Infarmed, sobre a evolução da covid-19.

"Não podemos ter em Portugal uma ideia de que todos aqueles que são dissonantes do PS acabam por calar a sua voz, nem podemos prescindir de ter uma informação científica isenta e forte, nem permitir que essa seja condicionada pelas conveniências do partido do Governo", acrescentou, considerando que "estas dúvidas têm de ser dissipadas, porque este Governo tem a tradição de afastar todos aqueles que têm vozes que são discordantes".

Questionado sobre as razões dadas pelo especialista para a sua saída, Francisco Rodrigues dos Santos não duvidou, mas salientou que "tem de ficar esclarecido que o professor Carmo Gomes não foi afastado das funções porque discordou da estratégia que tem vindo a ser seguida pelo Governo".

"Tem que haver liberdade científica de aconselhamento do Governo por parte dos especialistas, e que estas opiniões não estejam condicionadas às conveniências do Partido Socialista, porque o PS não é o dono disto tudo, nem tem de transformar as reuniões do Infarmed num coro de especialistas que dizem aquilo que o PS gostava que fosse transmitido ao país".

A ministra da Saúde afirmou hoje que a saída do epidemiologista Manuel Carmo Gomes do painel de peritos que faz o ponto da situação da covid-19 no Infarmed se deveu a motivos profissionais.

Questionada sobre se a saída de Carmo Gomes tem a ver com discordâncias em relação à estratégia de combate à pandemia adotada pelo Governo, a ministra afirmou que “não serão essas as razões, pelo menos da parte do Governo, que colocam qualquer um dos nossos peritos ou mais presente ou nos bastidores durante algum tempo”.

Marta Temido indicou ainda que Manuel Carmo Gomes é membro da comissão técnica da vacinação e que a sua decisão tem a ver com “gestão de agenda”.