Segundo a organização, cerca de mil pessoas e entre 150 e 200 tratores estiveram no protesto, enquanto a Delegação do Governo de Madrid (a entidade responsável por autorizar e organizar os dispositivos de segurança das manifestações) disse terem sido 450 pessoas e 78 tratores.
O protesto foi o segundo convocado nas últimas semanas para as ruas do centro da capital espanhola pela plataforma de associações agrícolas União das Uniões.
Esta plataforma tem organizado algumas das maiores manifestações em Espanha contra as políticas europeias para a agricultura, mas não é interlocutora do Governo espanhol.
No protesto anterior em Madrid, em 21 de fevereiro, a União das Uniões mobilizou 4.000 pessoas e 500 tratores, segundo as autoridades.
O coordenador da plataforma, Luis Cortés, disse hoje aos jornalistas que os agricultores pedem ao executivo “compromissos” para fazer avançar, em Bruxelas, a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) a partir de setembro, quando arrancar a nova legislatura na União Europeia (UE), na sequência das eleições de junho.
Luis Cortés pediu ainda ao Governo de Espanha medidas para haver uma produção agrícola “a preços justos” e não apenas “pensos rápidos”.
As políticas agrícolas “confundem agricultura com meio ambiente” e impedem a produção a preços acessíveis para a generalidade da população, afirmou.
A União das Uniões pede, por isso, que se negoceie “um novo regulamento da PAC” porque “faz falta uma reforma intermédia”.
“Aquilo que devem fazer é um regulamento próprio de meio ambiente e não misturá-lo com o da agricultura”, afirmou o representante, que considerou insuficientes os anúncios das últimas semanas da Comissão Europeia, em resposta aos protestos de agricultores em vários países.
A União das Uniões reivindica ainda que sejam aplicados nos acordos comercias entre a UE e países terceiros as designadas “cláusulas espelho”, ou seja, que se imponham aos produtos importados as mesmas condições de produção que têm os agricultores dentro da UE.
“Não queremos um privilégio, queremos igualdade”, disse Luis Cortés.
A manifestação de hoje saiu das imediações do Ministério da Transição Ecológica (que tutela o Ambiente) em direção ao Ministério da Agricultura, percorrendo algumas das artérias centrais de Madrid.
À frente dos tratores seguiram manifestantes a pé, com pessoas de todas as idades, incluindo crianças, com coletes refletores amarelos e bandeiras, faixas e cartazes com frases como “Continuamos a ter motivos”, “Papéis a mais, soluções a menos” ou “Hoje em dia a agricultura é a nossa sepultura”.
Luis Cortés afirmou que o protesto de hoje pretendeu ser “mais festivo e familiar” do que outros nas últimas semanas e apelou ao ministro da Agricultura, Luis Planas, para se sentar a dialogar também com a União das Uniões.
Segundo o representante, os agricultores vão continuar a protestar nas ruas em Espanha. Os profissionais, como tem acontecido noutros países, manifestam-se desde há cerca de seis semanas com o foco nas políticas agrícolas europeias.
Em Espanha, tem havido protestos convocados pela União das Uniões, por grupos informais nas redes sociais e pelas três confederações que são interlocutoras do Governo (Asaja – Associação Agrária Jovens Agricultores, UPA – União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros e a Coordenadora de COAG – Organizações de Agricultores e Ganadeiros).
Em meados de fevereiro, o executivo espanhol apresentou um pacote de 18 medidas para responder a reivindicações do setor, com o ministro Luis Planas a reconhecer que são, em boa parte, competência da UE e, por isso, o compromisso é propô-las e defendê-las em Bruxelas.
Entre essas propostas estão várias medidas para flexibilização de regras da PAC, simplificação de procedimentos e diminuição de burocracia, bem como mais exigências para produtos importados do exterior da UE.
A Comissão Europeia, por seu turno, avançou com concessões como o adiamento da redução do uso de pesticidas e lançou um inquérito aos agricultores e pequenos fornecedores de cadeias de abastecimento para avaliar as práticas comerciais desleais.
Os ministros da Agricultura da UE aprovaram também recentemente um primeiro pacote de medidas imediatas destinado a aliviar a carga burocrática exigida para os pagamentos diretos e desobrigar do cumprimento de pousio das terras os produtores de leguminosas.
Espanha é o primeiro exportador da UE de frutas e legumes.
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