Numa nota informativa a que a agência Lusa teve acesso, emitida hoje pelas Centrais Nucleares Almaraz-Trillo (CNAT), é explicado que esta central que faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, iniciou à meia noite de domingo o 23.º reabastecimento de combustível e trabalhos de manutenção.

"Às 23:56 de ontem 06 de novembro de 2016 procedeu-se à desativação programada da Unidade-II da central nuclear de Almaraz para iniciar a vigémia terceira paragem de reabastecimento de combustivel e manutenção geral", lê-se na nota.

Segundo o documento, a reconexão à rede está prevista para 18 de dezembro às 00:00, o que supõe uma duração de 41 dias.

À Lusa, Samuel Infante, da Quercus, disse que apesar desta operação em Almaraz, "as esperanças não são deitadas por terra" e adiantou que "a luta [pelo encerramento da central] vai continuar".

"Neste momento, o Governo mudou um bocadinho a trajetória que tinha seguido até aqui de apenas dizer que aceitava as garantias que vinham de Espanha", sustentou.

O ambientalista explicou ainda que na última audição parlamentar, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, reconheceu que iria usar os mecanismos de impacte ambiental, devido às notícias de que a Endesa, um dos proprietários da central nuclear espanhola, tinha feito um pedido para transformar Almaraz num cemitério nuclear.

"Nós, juntamente com as congéneres espanholas estamos já a trabalhar para que caso essa eventual avaliação de impacte ambiental decorra, seja bastante participada publicamente com as populações dos dois lados da fronteira", frisou.

Samuel Infante sublinha que o objetivo é "tentar evitar" que se crie mais uma infraestrutura nuclear em Almaraz que receba resíduos nucleares de outro local e continuar com o programa para desmantelar a central espanhola.

"Almaraz é uma central completamente obsoleta e mesmo que se façam investimentos, os riscos são muito elevados (?). Não há necessidade de continuarmos a ter uma central nuclear obsoleta que é uma bomba-relógio para todas as populações", afirmou.

Sobre este reabastecimento de combustível, disse apenas que está anunciado bem como algumas atividades de manutenção: "Não me parece que se possa intervir".

Este responsável da Quercus adiantou ainda que agora que Espanha já tem um governo, este possa finalmente tomar decisões e dizer sim ou não ao prolongamento do funcionamento da central.

"Em função disso, vamos definir toda a nossa estratégia de atuação e de combate a esse eventual prolongamento. Nesse sentido, é bom que haja em Espanha um governo para que se defina de uma vez por todas o que é que vão fazer com Almaraz e podermos, as associações e populações dos dois lados da fronteira, definir a melhor estratégia", concluiu.

Segundo a nota emitida pelos responsáveis da central de Almaraz, para o reabastecimento de combustível e as "mais de nove mil atividades planificadas", foram contratados serviços de mais de 70 empresas especializadas que vão empregar 1.200 trabalhadores adicionais,a maioria da província da Extremadura.