O líder da transportadora aérea irlandesa Ryanair alerta para a possibilidade de greves no período da Páscoa. Michael O’Leary diz que a empresa não vai obedecer às exigências “risíveis” dos pilotos, numa altura em que as negociações entre a direção e os sindicatos da Ryanair não chegam a consenso.

O’Leary diz preferir, por isso, greves a prejudicar a produtividade da empresa. A companhia aérea de baixo custo tem estado a negociar com os pilotos desde o final do ano passado, quando aceitou reconhecer os sindicatos, pela primeira vez em 32 anos de história. Na altura, o objetivo era impedir a realização de greves durante o perto do período natalício.

Na semana passada, a empresa viu-se obrigada a reconhecer o BALPA como órgão representativo dos trabalhadores, no Reino Unido. Porém, as negociações com outros sindicatos, conta esta segunda-feira a agência Reuters, romperam. Por causa disso, o líder executivo da Ryanair alerta os investidores para a possibilidade de a empresa ser afetada por greves na Páscoa (final de março).

"Nalgumas jurisdições temos estado a receber algumas exigências risíveis", disse o líder da empresa num vídeo após a apresentação dos resultados trimestrais. "Sinceramente", acrescenta, "nunca vamos concordar com elas... Se tivermos de levar com greves ou perturbações nessas jurisdições, que seja", disse O'Leary, citado pela Reuters.

A companhia aérea informou já esta segunda-feira que os lucros aumentaram 12%, para 106 milhões de euros, no 3.º trimestre fiscal, mantendo inalterada a previsão de lucro para este ano entre 1,40 e 1,45 milhões de euros.

Em comunicado, a transportadora de baixo custo irlandesa acrescentou que as tarifas médias desceram 4% para 32 euros por passageiro, tendo o tráfego crescido 6% para 30,4 milhões de passageiros nos últimos três meses de 2017.

Citado no texto, o presidente executivo da empresa, Michael O’Leary, manifestou o seu contentamento por registar o crescimento de 12% dos lucros durante um trimestre “muito desafiante”.

“Após a nossa falha nas escalas de serviço dos pilotos em setembro, a dolorosa decisão de fazer parar 25 aeronaves, assegurámos que a pontualidade das nossas operações rapidamente voltasse à média normal de 90%”, acrescentou, realçando o aumento do número de passageiros.

A falta de pilotos obrigou a Ryanair a cancelar milhares de voos no ano passado. O’Leary, porém, negou a insuficiência, explicando que a empresa contratou 1.100 cadetes e espera contratar mais mil pilotos ao longo deste ano.

Na sexta-feira, 2 de fevereiro, a companhia de aviação de baixo custo anunciou que transportou 9,3 milhões e passageiros em janeiro, mais 6% que em igual mês do ano anterior.

A taxa de ocupação cresceu dos 90% registados em janeiro de 2016 para 91% observados em janeiro deste ano, refere em comunicado a transportadora aérea irlandesa.

O tráfego de passageiros dos últimos doze meses cresceu 9%, atingindo os 129 milhões de clientes.

Também a crescer estão as despesas da companhia aérea. Os gastos com combustível devem subir cerca de 300 milhões de euros no próximo ano. A isso junta-se um aumento de 20% nos salários dos pilotos, aumentando a despesa com ordenados em 100 milhões de euros.

O’Leary notou ainda que depois de 30 anos de sucesso a trabalhar diretamente com os funcionários, “tornou-se claro em dezembro que a maioria dos pilotos queria ser representada por sindicatos”.

Para além do Reino Unido, a empresa tem tido encontros com sindicatos de pilotos em Portugal, na Irlanda, Alemanha, Espanha, Itália, Bélgica e França. Mais países deverão ser acrescentados a esta lista, bem como, diz O’Leary, os sindicatos da restante tripulação a bordo dos voos.

“Apesar de o reconhecimento do sindicato poder adicionar alguma complexidade ao nosso negócio, causar interrupções de curto prazo e relações públicas negativas, tal não alterará a nossa liderança em custos na aviação europeia ou mudará o nosso plano para crescer até 200 milhões de tráfego até 2024”, comentou.

A alteração das alocações de aeronaves é uma hipótese levantada, face às “novas oportunidades de crescimento na França e na Escandinávia”.

Sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a Ryanair manifestou preocupação com a “incerteza contínua” em relação aos termos do acordo entre as duas partes.

“Continua a ser um risco preocupante de graves interrupções nos voos do Reino Unido-UE a partir de abril de 2019, a menos que um acordo bilateral (ou transição entre o Reino Unido e a UE) seja fechado antes de setembro de 2018. Nós, como outras companhias aéreas, precisamos de clareza sobre esta questão antes de publicarmos os nossos horários do verão de 2019”, lê-se no comunicado.

Para este ano, a previsão é cautelosa, face à possibilidade de disrupções e “relações públicas adversas”, pelo que os “investidores devem estar preparados”.

“Em certas jurisdições, os sindicatos que representam as companhias aéreas concorrentes desejarão testar o nosso compromisso com o modelo de baixo custo/alta produtividade para perturbar as nossas operações. Estamos completamente preparados para enfrentar qualquer perturbação, se isso significar defender a nossa base de custos ou o nosso modelo de alta produtividade”, concluiu o responsável da empresa, aqui citado num comunicado hoje divulgado.

Para este ano, a tarifa da Ryanair deve descer 2%, com a transportadora a referir não partilhar do otimismo dos seus concorrentes no mercado sobre subidas das tarifas no verão de 2018.

“O nosso tráfego vai subir 6% em 2019 para 138 milhões, mas as estimativas são de que as tarifas para o verão vão continuar sob pressão”, prevendo-se o aumento de custos com combustível e pessoal e que continue a incerteza sobre o 'Brexit'.