A notícia surgiu à hora dos telejornais, às 20:00, através de um comunicado do Ministério das Finanças em que também se anunciava que a renúncia de Domingues só produzirá efeitos no final do mês de dezembro e que “muito brevemente" será anunciado o nome de uma personalidade para a presidência da CGD.
À polémica em torno da entrega das declarações de rendimentos pela nova administração da CGD, que António Domingues se recusava a cumprir, seguiu-se uma nova controvérsia relacionada com a eventualidade de Domingues estar na posse de informação privilegiada sobre a Caixa quando participou, como convidado, em três reuniões com a Comissão Europeia para debater a recapitalização do banco.
Cinco semanas depois de ter lançado esta polémica, no seu habitual espaço de comentário político na SIC, o ex-líder do PSD Luís Marques Mendes afirmou também ontem que o Governo pressionou António Domingues a recuar na demissão.
Mendes revelou que Domingues "manifestou a intenção de sair" na quinta-feira, após a aprovação com os votos de três partidos – BE, PSD e CDS – de uma norma obrigando os atuais administradores da CGD a entregarem no Tribunal Constitucional as declarações de património. “Na sexta-feira apresentou o pedido por escrito ao presidente do conselho fiscal da CGD”, disse.
E nos dias seguintes, até hoje, "foram feitas várias tentativas de que ele recuasse na sua decisão”, sem êxito, explicou o comentador social-democrata.
As primeiras reações partidárias surgiram de dois parceiros do PS na maioria parlamentar que suporta o Governo de António Costa, PCP e Bloco de Esquerda, reservando-se a oposição, PSD e CDS, para a manhã de hoje.
quem não reconhece a lei não serve
A deputada bloquista Mariana Mortágua considerou que a demissão "já só peca por tardia" porque "quem não reconhece a lei não serve" para o banco público.
"O inexplicável arrastamento deste processo ao longo de três meses foi prova de uma irresponsabilidade que agora se encerra", disse Mariana Mortágua numa declaração na sede do BE, em Lisboa.
Na opinião da deputada bloquista, "quem não reconhece a lei não serve para a Caixa Geral de Depósitos", defendendo que "quem se demite por não estar disposto às regras de transparência a que o cargo obriga, nunca esteve à altura de assumir esse cargo".
Já o dirigente comunista Jorge Pires disse desejar que a CGD ajude a economia portuguesa, sem atender aos "falsos argumentos" de CDS-PP e, sobretudo, PSD que "escondem o objetivo da privatização" do banco público.
Jorge Pires lamentou as "decisões erradas" do Governo socialista, além do ato "inútil" que foi a aprovação, na passada semana, de uma alteração legislativa, proposta pelo PSD e viabilizada por CDS-PP e BE, para que os administradores de instituições de crédito integradas no setor empresarial do Estado ficassem abrangidos pelas normas constantes do Estatuto do Gestor Público (EGP), designadamente a apresentarem os seus rendimentos ao Tribunal Constitucional (TC).
Também as duas centrais sindicais, CGTP e UGT, se pronunciaram sobre a demissão na Caixa.
Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP-IN, disse não ter ficado surpreendido com a demissão do presidente da Caixa e considerou que esta “novela”, da qual todos saem com a "imagem chamuscada", já devia ter terminado há muito tempo.
“Esta é uma responsabilidade, acima de tudo, do dr. António Domingues e dos elementos que estavam nomeados para a administração, mas caberá ao Governo, também no princípio da boa-fé, atuar já com toda a celeridade no sentido de tapar este buraco”, afirmou à agência Lusa Carlos Silva, secretário-geral da UGT.
O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos, Jorge Canadelo, alertou que não pode haver um vazio no banco e pediu que seja encontrada rapidamente uma solução após a demissão de hoje.
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