“Hoje estamos perante uma greve que podia ser evitada por vontade dos sindicatos e que o Governo, pura e simplesmente, com a sua atitude prepotente, acabou por impedir que tal acontecesse”, disse o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, que falava aos jornalistas numa concentração dos trabalhadores em frente à sede da empresa, em Almada.
Aludindo às conversações tidas entre estruturas sindicais e o Ministério do Planeamento relativamente a aumentos salariais, o responsável indicou que “os valores que estão em cima da mesa são perfeitamente possíveis de serem assumidos e concretizados pela empresa”.
“Estamos a falar de uma empresa que tem elevados lucros e de aumentos de 20 euros mensais […]. O facto de o Governo não ter correspondido a esta proposta depois de a ter assumido e, simultaneamente, depois ter recusado a sua passagem a escrito para que ficasse formalizado, não pode deixar de merecer a nossa contestação e o nosso repúdio”, acrescentou.
De acordo com Arménio Carlos, “se [o executivo] estivesse disponível para passar a escrito o compromisso que, verbalmente, assumiu com os sindicatos, hoje não havia greve”.
“Não o fez e ninguém percebe porquê”, lamentou Arménio Carlos, notando que, ainda assim, “os sindicatos estão disponíveis para voltar às negociações e colocar no papel aquele que foi o compromisso anterior”.
Presente na concentração, o coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), José Manuel Oliveira, denunciou um “sistema antigreve” aplicado pela empresa.
Falando sobre esta questão, Arménio Carlos garantiu que a CGTP, à semelhança da Fectrans, vai “solicitar à Autoridade para as Condições de Trabalho para averiguar aquilo que se passou e, simultaneamente, penalizar a empresa”.
“Mais uma vez, o Governo em vez de dar o exemplo e respeitar os direitos dos trabalhadores da greve, o que está a fazer é a substituir trabalhadores em greve por chefias superiores para desenvolverem a atividade que por norma não desenvolvem e que é desenvolvida por outros que hoje estão em greve”, criticou o representante.
Para Arménio Carlos, tal situação “não só é ilegal como é imoral e inaceitável”, nomeadamente por parte de um executivo “que tanto criticou o Governo anterior por comportamentos antilaborais e antissociais” e que “neste momento está a seguir posicionamentos idênticos”.
O dirigente da CGTP considerou que “o problema de fundo é o facto de este Governo continuar a recusar responder positivamente aos trabalhadores, […] nomeadamente quanto à atualização dos seus salários” e alertou que se o executivo mantiver esta “postura antinegocial”, os trabalhadores vão continuar as ações de luta.
Os trabalhadores da IP cumprem hoje um dia de greve. A empresa queria serviços mínimos correspondentes a 25% do número de composições habituais de transporte de passageiros, mas o tribunal arbitral entendeu não decretar este serviço face à curta duração da greve e por haver transportes alternativos.
A Comboios de Portugal (CP) garantiu hoje que cumpriu 63% da circulação prevista até às 12:00, tendo sido suprimidos 215 comboios a nível nacional, resultado da greve dos trabalhadores das Infraestruturas (IP) de Portugal.
As ligações onde a paralisação está a ter um maior impacto são as de longo curso e regionais, disse à Lusa a porta-voz da CP, Ana Portela.
Já segundo a Fectrans, a adesão à greve rondava os 80% perto do meio-dia, tendo em conta os trabalhadores das infraestruturas rodoviárias e ferroviárias.
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