“Creio que esta greve da administração pública vai ter uma grande adesão dos trabalhadores, quer no continente, quer nas regiões autónomas, desde logo porque se sentem indignados”, afirmou Arménio Carlos, em declarações à agência Lusa junto às instalações dos Serviços Intermunicipalizados de Águas e Resíduos dos Municípios de Loures e Odivelas.
O responsável da CGTP lamentou que, “depois de dez anos sem qualquer atualização salarial”, os funcionários públicos continuem a ser “desconsiderados com propostas que não correspondem nem às suas necessidades, nem aos seus interesses e, por outro lado, sem qualquer correspondência em termos do reconhecimento das profissões”.
A juntar esta questão, “há um conjunto de subsídios de insalubridade e risco, nomeadamente nas profissões da recolha de resíduos sólidos que continuam por responder”, ressalvou, apontando que a prestação de serviços públicos feita por estes trabalhadores “é fundamental para ir ao encontro das necessidades das populações”.
Vincando ser “exigível que os trabalhadores sejam valorizados e reconhecidos”, Arménio Carlos antecipou, ainda, a “forte indignação que hoje e amanhã [sexta-feira] se vai sentir em todo o país”.
Os trabalhadores da administração pública cumprem a partir da meia-noite uma greve por aumentos salariais, o que poderá levar ao encerramento de escolas, ao cancelamento de atos médicos e comprometer o funcionamento de tribunais e finanças.
Os primeiros efeitos do protesto começaram a sentir-se ainda hoje nos hospitais, com a mudança de turno das 23:00, e nos serviços de saneamento das autarquias, onde a recolha de lixo começou às 22:30.
Segundo dados avançados à Lusa pelas 23:00 pelo presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local, José Correia, os serviços de recolha noturna de lixo em Évora, Seixal, Setúbal, Moita e Palmela “estão todos encerrados”.
Já a coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, Ana Avoila, referiu que, de acordo com os dados que disponha naquele momento, a adesão nos hospitais do Norte variava entre os 75% no São João, os 85% no Santo António e os 90% nos hospitais de Gaia, de Chaves e de Penafiel.
Inicialmente a greve foi convocada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (ligada à CGTP) para pressionar o Governo a incluir no Orçamento do Estado para 2019 (OE2019) a verba necessária para aumentar os trabalhadores da função pública, cujos salários estão congelados desde 2009.
Contudo, após a última ronda negocial no Ministério das Finanças, em meados de outubro, a Federação de Sindicatos da Administração Pública e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, ambos filiados na UGT, anunciaram que também iriam emitir pré-avisos de greve para o mesmo dia, tendo em conta a falta de propostas do Governo, liderado pelo socialista António Costa.
Os sindicatos da função pública e os seus representados ficaram desiludidos com o anúncio, pelo ministro das Finanças, de que o OE2019 tem uma margem de 50 milhões de euros para o crescimento dos salários.
Sobre a proposta, Arménio Carlos disse agora que o documento “fica muito aquém do que seria justo e exigível, porque o Governo avança com a disponibilização de 50 milhões de euros para aumentar os salários de 650 mil trabalhadores da administração pública ao mesmo tempo que também anuncia que tem 400 milhões reservados para colocar no Novo Banco”.
“Isto não faz sentido. O país não se desenvolve com a continuação da política de baixos salários”, concluiu.
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