O 'look' revolucionário domina as ruas de terra e os acampamentos na selva da comunidade isolada de El Diamante, nos Llanos del Yarí, onde as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) estiveram reunidas para assinar, ontem, o acordo de paz com o governo, e preparar a sua transformação num movimento político legal.
Com a paz no horizonte, após 52 anos de conflito, vêem-se não apenas rebeldes com o clássico uniforme verde tropa. Há também t-shirts coloridas, bandeletes de padrão camuflado combinadas com calças de uniforme militar, correntes douradas e colares artesanais, enfeites nos cabelos e acessórios feitos à mão pelos próprios rebeldes.
"O guerrilheiro gosta muito de artesanato", diz Paula Sáenz, de 26 anos. Usa um 'piercing' na sobrancelha, adereço que junto com as tatuagens começa a popularizar-se na fileiras das FARC. Os símbolos da revolta estão marcados nas bijuterias, gorros e outros acessórios. Aparecem a estrela, o martelo e a foice e, como não podia faltar, o omnipresente Ernesto 'Che' Guevara, ícone da revolução cubana que inspirou as guerrilhas colombianas desde o seu início, nos anos 1960.
Todos os rebeldes das FARC parecem ter uma t-shirt do 'Che'. "A minha é preta com a estampa em branco", diz 'Wilder', de 19 anos e cinco das FARC. Mas as possibilidades são infinitas, vermelhas, beges, com frases de libertação e a bandeira de Cuba no fundo.
O próprio líder máximo da guerrilha, Timoleón Jiménez, 'Timochenko' como é conhecido, aparece com uma t-shirt branca de 'Che' durante o espectáculo dos "Rebeldes do Sul", grupo musical popular entre os membros das FARC, que se apresentou no fim de semana na conferência.
O "poncho-lenço" que entrou na moda
Nos eventos que fecharam diariamente os debates, guerrilheiros e guerrilheiras desfilaram com um acessório obrigatório: os 'poncho-lenços', um retângulo de tecido leve com abertura no meio, parecido com o típico poncho colombiano. "Se nos vêem com ele sabem que somos guerrilheiros", diz Juan, de 35 anos, mostrando o seu branco e preto sobre uma t-shirt com o símbolo da Nike. "Servem para secar o suor e também para 'aparecer'", acrescenta. Juan usa uma boina com o emblema das FARC: um mapa da Colômbia com duas espingardas cruzadas e um livro aberto, com a bandeira colombiana no fundo. "Agora pode ser que mude", diz, em alusão ao desarmamento previsto do grupo.
Os 'poncho-lenços' são muito usados entre os guerrilheiros, com referência à imagem emblemática do líder histórico Manuel Marulanda ('Tirofijo') com a sua pequena toalha sobre os ombros, um gesto que quase todos os membros da cúpula das FARC copiaram na inauguração da conferência. Nesse dia, todos usavam a t-shirt branca com o logotipo da conferência: os rostos em azul-celeste de 'Tirofijo', Jacobo Arenas e Alfonso Cano, líderes históricos das FARC. O mesmo acessório foi entregue para os jornalistas como presente numa bolsa também com o logo.
A foto de 'Mono Jojoy', o famoso líder da zona de Caguán morto em 2010, é reproduzida em porta-chaves, pendentes e pins.
Blusas brancas da paz
No que parece uma preparação para a sua reinserção, durante estes dias nas tendas improvisadas de El Diamante, alguns guerrilheiros usavam calças, camisas e sapatos. "Todos estão a comprar roupa civil para depois", diz César Peña, um equatoriano de 35 anos que veio de San Vicente del Caguán, a cinco horas dali, por uma estrada precária.
No bar com bilhar onde os rebeldes e a população se encontram, Karla de 29 anos, com seu longo cabelo preto e uniforme camuflado afirma: "Quem é guerrilheiro é ensinado que a roupa civil não é necessária. Com certeza que agora é outra etapa e vamos nos acostumar." Os comandantes "pediram-nos para usar blusas brancas pela paz, mas eu não tinha", desculpa-se Mario, um guerrilheiro de 36 anos que no espectáculo do grupo de reggae Alerta Kamarada usava um lenço palestiniano de fundo verde.
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