Em visita ao Japão, iniciada na terça-feira, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, observou as águas residuais radioativas a serem misturadas com quantidades massivas de água do mar e examinou a estação onde se processa esta operação.

As descargas motivaram a oposição de comunidades de pescadores e de países vizinhos, incluindo a China, que proibiram todas as importações de peixe e marisco após o início do processo proveniente da central nuclear Fukushima Daiichi (no nordeste do Japão), danificada por um violento sismo e ‘tsunami’ em 2011.

A viagem de Grossi ao nordeste japonês ocorre no segundo dos três dias da visita ao país asiático, marcada por reuniões com membros do Governo nipónico e da Tokyo Electric Power Company (TEPCO), a empresa gestora da central.

Durante esta deslocação, que também incluiu encontros com pescadores e estudantes locais, Grossi analisou o canal de saída da água, ligada a um tubo subterrâneo que a transporta até à zona de saída no oceano Pacífico, a um quilómetro da costa, e explicou o processo de diluição prévia com água do mar.

“Ao supervisionar esta operação e fornecendo informação sobre a mesma, asseguramos, como afirmámos desde o início, que a AIEA estará presente até que a última gota seja dispersa de forma segura no oceano”, disse Grossi num vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter).

“A segurança nuclear está em primeiro lugar. A AIEA está aqui e vamos acompanhar de forma contínua esta operação”, acrescentou.

Antes da deslocação às instalações da central nuclear de Fukushima, o diretor-geral da AIEA manteve um encontro na localidade de Iwaki com associações e grupos de pescadores da região, que contestam o processo utilizado devido ao impacto no setor das pescas e nos respetivos produtos.

Em resposta, Grossi assegurou que a AIEA “monitoriza de forma independente a descarga de água da central, analisando a água, os peixes e os sedimentos”.

“Até agora, os resultados mostram que o trítio [isótopo radioativo de hidrogénio] está muito abaixo dos limites. A transparência, a precisão e o diálogo serão fundamentais durante todo o processo”, acrescentou.

Grossi também manteve uma conversa com estudantes da região de Fukushima, durante a qual sublinhou a importância do organismo que dirige para as gerações futuras.

“As vossas perguntas sobre a descarga de água e outras questões de energia nuclear enfatizam o valor do compromisso da AIEA”, assinalou.

A TEPCO está a descarregar no oceano Pacífico mais de 1,32 milhões de toneladas de água contaminada de radioisótopos, após ser processada para lhe retirar a maioria desse material altamente radioativo e diluída em água marinha, um processo que irá prolongar-se por várias décadas.

O Governo japonês, a operadora da central e o regulador nuclear japonês optaram pela descarga no oceano como a melhor forma de solucionar o problema do armazenamento provisório do líquido no interior das instalações nucleares, e após rejeitarem outras alternativas devido à sua complexidade técnica ou custos mais elevados.

Esta opção originou críticas de países vizinhos, em particular da China, apesar de estar a ser supervisionada pela AIEA, que considera o plano japonês ajustado aos padrões de segurança do setor e assegura que estas descargas “graduais e controladas” terão um impacto radiológico “insignificante” em pessoas e no meio ambiente.