Essa foi a tónica principal do discurso de André Ventura na primeira reunião autárquica do partido, que, preparada em cerca de 48 horas, ao início da noite reunia mais de 50 pessoas no Centro Social Luso-Venezolano e este sábado deverá levar “muitos mais” a esse equipamento do distrito de Aveiro.
Poucas horas depois de anunciar a sua demissão da presidência do partido, na sequência da decisão do Tribunal Constitucional que o obriga a realizar novas eleições internas, o líder do Chega admitia que a “turbulência” gerada por essa sentença judicial veio perturbar a concentração dos seus mais de 400 autarcas recém-eleitos, mas afirmava que a sua prioridade imediata é a preparação das respetivas tomadas de posse.
“O que nos vai preocupar muito nestes dois dias é garantir que os eleitos pelo Chega têm uma mensagem única e comum, que não se vendem aos outros partidos e que, mesmo nos casos em que a pressão já está a ser muita – e quero denunciar que em alguns municípios a pressão por parte do PS ou do PSD está a ser intolerável e incomportável –, o que temos que definir aqui é um muro de betão, uma capacidade de nos protegermos em relação a essas situações”, declarou André Ventura.
Referindo que, em muitos casos, os seus novos autarcas ocupam “posições decisivas em câmaras e assembleias municipais”, o presidente do Chega considera “fundamental que se defina que tipo de acordos ou entendimentos pode existir” porque “uma coisa mal feita pode prejudicar o partido todo”.
Nessa perspetiva, acrescentou: “O Chega tem que ser um partido com coluna vertebral. No dia em que a perdermos, os eleitores deixam de confiar em nós. Se dizemos durante a campanha que o PS está a destruir o país e a economia nacional, e depois chegamos [ao poder local] e nos colocámos ao lado dos socialistas em muitos executivos, qual é a imagem que as pessoas vão reter?”.
André Ventura realça, aliás, que “é perfeitamente possível viabilizar soluções que sejam boas para as populações sem se ter que fazer qualquer entendimento ou acordo [prévio]” com outras forças políticas, pelo que rejeita a necessidade de “qualquer geringonça” com o PSD ou qualquer outro partido.
“É para isso que vou tentar sensibilizar as centenas de autarcas do Chega”, afirmou, antes de sublinhar: “Elegemos 400 autarcas. Fizemos em dois anos e meio o que o BE não fez em 25 anos e isso é histórico. (…) Basta ver o exemplo do único partido com que nos podemos comparar, apesar de até ter mais tempo – o Iniciativa Liberal não tem um único vereador”.
O presidente do partido alerta, contudo, que “essa foi a parte da conquista” e que, ao “orgulho e alegria” dos resultados nas urnas, se sucede agora a respetiva porção de responsabilidade. “Não basta eleger; as pessoas têm que sentir que nós somos uma voz útil na defesa dos seus interesses, que não nos vendemos aos outros partidos e que, quando fazemos qualquer tipo de entendimento, é em condições muito específicas e com regras”, explicou.
Pouco depois, já no palco, André Ventura voltava a insistir nessa mensagem, fazendo notar que será precisamente na “luta mais difícil” do exercício autárquico que o partido verá facilitada a sua capacidade de “persuasão” sobre o eleitorado. “O Parlamento dá-nos visibilidade nacional, mas são os eleitos que terão que interagir com a população, criar laços com ela e viabilizar entendimentos com os mesmos partidos que, antes das eleições, nos humilharam e ofenderam, para agora nos virem pedir acordos”, concluiu
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