“Hoje em dia, algumas pessoas estão a insistir na narrativa da democracia contra a autocracia e até a falar de uma nova Guerra Fria”, disse Qin numa conferência de imprensa durante uma visita a Oslo.

Para Qin, uma nova Guerra Fria terá um resultado “ainda mais desastroso” do que a anterior, numa referência à divisão entre o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco de leste, sob a liderança da União Soviética.

O período de divisão entre os dois blocos, que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), durou até à dissolução da União Soviética, em 1991. Uma nova Guerra Fria “prejudicará seriamente as relações e a cooperação entre a China e a Europa”, avisou Qin, citado pela agência francesa AFP.

Os comentários de Qin em Oslo surgiram numa altura em que os chefes da diplomacia da UE se reúnem em Estocolmo, na vizinha Suécia, para tentar falar a uma só voz contra a China.

“Temos de reajustar a nossa posição em relação à China”, disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, na abertura da reunião.

Ucrânia, Taiwan, direitos humanos e a situação da minoria muçulmana na China são algumas das questões que opõem Pequim e o Ocidente. A UE não defende especificamente uma dissociação, mas propõe uma diminuição do risco nas relações com a China para evitar tornar-se demasiado dependente do gigante asiático.

Qin Gang termina em Oslo uma digressão pela Europa que incluiu Alemanha e França: “Sinto que a Europa tem um desejo urgente de aumentar a coordenação e a comunicação com a China e de desenvolver uma cooperação mutuamente benéfica”, afirmou, em jeito de balanço da visita, segundo a agência espanhola EFE.

Qin acrescentou que “enquanto a Europa e a China se mantiverem empenhadas na paz para a coexistência, permanecerem independentes, se empenharem na cooperação mútua e mantiverem o diálogo e a consulta”, podem “ultrapassar as dificuldades e alcançar um crescimento sustentado”.

A visita de Qin ocorre também numa altura em que a UE está a discutir um novo pacote de medidas contra a Rússia, que inclui empresas da China e de Hong Kong suspeitas de ajudar Moscovo a contornar as sanções ocidentais.

Durante a visita à Alemanha, na terça-feira, Qin Gang advertiu a UE de que a China tomará medidas de retaliação se o bloco europeu sancionar empresas chinesas.

Os aliados ocidentais de Kiev, incluindo a UE, têm imposto sucessivos pacotes de sanções à Rússia desde que invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.

A China tem assumido uma posição de neutralidade no conflito, apesar das relações próximas com a Rússia. Pequim propôs-se mesmo mediar negociações entre as duas partes e anunciou hoje o envio de um emissário especial a Kiev e Moscovo na próxima semana, tratamdo-se do embaixador Li Hui, representante especial chinês para os assuntos euro-asiáticos, que também se deslocará à Polónia, França e Alemanha.