Em 2015, um conjunto de documentos internos mostrou que a gigante petrolífera sabia dos perigos do aquecimento global desde 1981 — sete anos antes de se tornar um tema público. Agora, um estudo demonstrou que os próprios cientistas da ExxonMobil foram extremamente precisos nas projeções que fizeram nos anos 1970 sobre a curva ascendente do aumento das temperaturas globais e das emissões de dióxido de carbono nos anos seguintes.

À data, estes previram um aquecimento global na ordem dos 0,2ºC por década devido às emissões de gases com efeitos de estufa a partir da queima de petróleo, carvão e outros combustíveis fósseis.

O problema é que, durante décadas, membros do setor das indústrias fósseis, nas quais se inclui a ExxonMobil, tentaram convencer o público de que não era possível fazer uma ligação direta entre a queima de combustíveis e o aquecimento global, porque os modelos utilizados para este tipo de projeções eram muito incertos. No entanto, as projeções dos seus próprios cientistas estavam em linha com o previsto por modelos académicos e governamentais independentes.

A análise agora conhecida debruçou-se sobre mais de 100 documentos internos da ExxonMobil, e em investigação revista por pares divulgada em publicações científicas produzidas por cientistas da petrolífera ou com co-autoria destes em publicações independentes, entre 1977 e 2014.

No entanto, apesar de deter todo este conhecimento, a ExxonMobil fez campanha para desacreditar ou diminuir o que os seus próprios cientistas haviam descoberto.

Em 1999, recorda o The New York Times, Lee Raymond, diretor-executivo à data, disse que as projeções sobre o aquecimento global "são baseadas em modelos climáticos completamente não comprovados ou, mais frequentemente, em pura especulação”.  "Não temos conhecimento científico suficiente para fazer previsões razoáveis e/ou justificar medidas drásticas", acrescentou numa brochura da empresa no ano seguinte.

Recorda o The Guardian que ainda recentemente, em 2013, Rex Tillerson, então diretor-executivo da empresa, disse que os modelos utilizados para prever alterações climáticas "não são competentes" e que "havia incertezas" quando ao impacto dos combustíveis fósseis no aquecimento global.

Geoffrey Supran, que integrou um estudo semelhante com o objetivo de mostrar o que as grandes petrolíferas sabiam sobre o impacto dos seus negócios, lamenta a atuação da ExxonMobil. "Eles podiam ter apoiado a ciência ao invés de a negarem. Teria sido muito mais difícil negar as evidências se uma gigante do setor petrolífero apoiasse a ciência ao invés de a atacar". Natalie Mahowald, cientista climática na Universidade de Cornell, considera que esta atuação teve "implicações profundas" porque fez adiar investimentos em energias renováveis.

Questionada sobre este estudo, a ExxonMobil disse que "aqueles que dizem que a Exxon sabia estão errados na suas conclusões" e retomou um veredicto de 2019, proferido pelo juiz Barry Ostrager, do Supremo Tribunal de Nova Iorque, que considerou que "o que as provas e o julgamento revelaram é que os executivos e funcionários da ExxonMobil estavam comprometidos com o rigoroso cumprimento das suas obrigações, da forma mais abrangente e meticulosa possível... O depoimento das testemunhas demonstrou que a ExxonMobil tem uma cultura disciplinada de análise, planeamento, contabilidade e relatório".