"Tem de haver aqui diálogo, tem de haver quem estabeleça o diálogo que foi rompido, para nós podermos voltar a ter maneira de explicar o que é que se passa com os artistas que trabalham arduamente para terem os seus espetáculos para o público e atualmente não os conseguem fazer, porque não está a haver sensibilidade", defendeu o bailarino da CNB.

José Carlos Oliveira foi um dos representantes dos bailarinos e técnicos da CNB que hoje se reuniram com uma delegação do PCP que visitou as instalações do Teatro Camões, em Lisboa, e no final falou à comunicação social sobre este encontro.

"O PCP quis-se inteirar realmente das condições de trabalho que existem na CNB, até para rebater a imagem que se está a dar publicamente de que está a haver um pedido de aumento de salários, o que não corresponde à verdade. A verdadeira razão por que nós chegámos aqui é a falta de condições de trabalho", afirmou o bailarino.

Depois, José Carlos Oliveira referiu-se especificamente ao estado das instalações do Teatro Camões, onde considerou que as condições de trabalho são "lastimáveis", e à questão do horário de trabalho em que, no seu entender, "o Estado de direito está a ser posto em causa".

Para os bailarinos, a redução do horário de trabalho foi "uma grande evolução para as suas condições, porque o seu desgaste, o seu cansaço foi menor, porque têm mais condições para recuperarem de um dia para o outro e têm menos lesões", salientou.

"Agora o que está a acontecer é querer haver um retrocesso, após dois anos de terem melhorado as suas condições de trabalho, não é remuneratórias - isso não é o que interessa aqui, não conta para nada -, é o nível de condições para poderem ter o melhor desempenho. Foram melhoradas e agora voltam atrás, passados dois anos", criticou.

Segundo José Carlos Oliveira, sob a tutela Organismo de Produção Artística (Opart), as condições de trabalho têm-se "vindo a agravar ao longo dos anos".

"Tem sempre sido sempre prometido obras, medidas para resolver, é sempre para o futuro e esse futuro nunca chega e cada vez as coisas estão piores", acrescentou, reiterando: "Portanto, aqui não há uma questão de aumentar salários".

Questionado se acredita que haja mudanças com a nova administração da Opart, respondeu: "Eu acredito em tudo, apesar de até hoje nunca ter visto resultados. Mas acredito, faço votos para que sejam pessoas com grande sensibilidade para lidar com artistas".

A greve dos trabalhadores do Organismo de Produção Artística (Opart), que gere a Companhia Nacional de Bailado e o Teatro Nacional de São Carlos, diz respeito a uma diferenciação salarial de técnicos das duas entidades.

Em 2017, o conselho de administração cessante, do Opart, liderado por Carlos Vargas, estipulou que os trabalhadores da CNB passariam a trabalhar 35 horas semanais, mantendo o salário correspondente a 40 horas, que detinham, enquanto os restantes trabalhadores deste organismo mantinham as 35 horas semanais e a remuneração dessas mesmas horas.

O sindicato exige agora um acerto do valor do trabalho por hora, para que os trabalhadores do TNSC recebam o mesmo que os da CNB.

O Ministério da Cultura considera sem fundamento legal a decisão de 2017, do Opart. Reconhece necessidade de harmonização, mas não aceita a exigência do sindicato, por considerar que representa um aumento salarial superior a 10% para alguns trabalhadores.