A estrutura foi inaugurada no Largo de D. Dinis, na Universidade de Coimbra, no dia 17 de abril, em homenagem ao momento protagonizado pela Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), em 1969, que deu início à Crise Académica e espoletou o movimento reivindicativo estudantil.

Crise Académica de 1969 destruida em Coimbra. "Uma estrutura que procurava dignificar o legado da AAC acaba a ser arrasado pela própria academia de Coimbra"

"Já nos tínhamos apercebido de alguns ataques vocacionados para a estrutura. No dia 29 de abril tivemos de a reparar, e, por isso, estava montada de novo, e durante a madrugada tivemos a informação de que tinha sido completamente demolida", conta José Machado, vice-presidente da AAC, ao SAPO24. O estudante avança ainda que as estacas da exposição foram utilizadas pelos responsáveis pelos estragos "para brincadeiras fúteis no decorrer da noite".

Em nota de imprensa, a AAC "lamenta e repudia, de forma veemente e absoluta, os atos de destruição e vandalismo", e acrescenta: "Qualquer ato de vandalismo não tem lugar numa sociedade democrática, livre, plural e tolerante, tal como nos valores de Abril".

"Uma estrutura que procurava dignificar um momento primordial no legado histórico-político da Associação Académica de Coimbra acaba a ser arrasado pela própria academia de Coimbra", lamenta o vice-presidente.

A Direção-Geral da AAC ainda está a ponderar que medidas tomar, começando por retirar a estrutura, agora em pedaços, adianta José Machado.

"É lamentável que os valores da liberdade de expressão e de manifestação sejam postos em causa por atos de vandalismo cobardes, com um intuito meramente destrutivo", reforçam os estudantes, em comunicado. "Este tipo de ações não vão limitar a liberdade de expressão da AAC".

Agora, o objetivo da associação vai passar por "perceber quais são as ações legais a tomar ou a não tomar, para que compreender de que forma evitar este tipo de situações no futuro", termina o vice-presidente.

Desde o primeiro momento, a iniciativa teve como objetivo "celebrar Abril e o seu legado de forma livre, plural e inclusiva, com toda a comunidade académica", explicam. O nome dado à estrutura - “E tu, pedes a Palavra?” - faz referência ao momento em que, a 17 de abril de 1969, na inauguração do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra, durante o Estado Novo, Alberto Martins, presidente vigente da Direção-Geral da AAC, pede a palavra e esta é-lhe recusada.

A intervenção marca o início dos protestos dos estudantes e do luto académico, que só termina a 25 de abril de 1974, quando os estudantes e o país recuperam a liberdade de expressão, agora posta em causa.

Artigo editado por Rute Sousa Vasco