Temidos, os coletivos desempenharam um papel importante na repressão das manifestações que 'rebentaram' depois da vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, que foi declarada apesar das denúncias de fraude. O resultado: 28 mortos, 200 feridos e mais de 2.400 de pessoas presas.
Eles prometem agir novamente esta quinta-feira, altura em que estão programadas manifestações da oposição antes da posse de Maduro para um terceiro mandato, 2025-2031.
Na terça-feira, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, reuniu centenas de membros dos coletivos num comício e fez duras advertências contra os opositores de Maduro.
"Fascistas, terroristas, se ousarem (interferir na posse), vão arrepender-se para o resto da vida", disse Cabello, sob aplausos.
Os coletivos, um legado de Hugo Chávez (presidente entre 1999 e 2013 e antecessor de Maduro), afirmam trabalhar para as suas comunidades em atividades desportivas, culturais e na área da educação, mas deixam claro que a sua prioridade é a "segurança" da Revolução Bolivariana.
"Se tivermos que ser violentos, seremos"
No centro de Caracas, um mural retrata Ernesto 'Che' Guevara e Chávez, além de "mártires" como o líder líbio Muammar Kadafi e o general iraniano Qassem Soleimani.
Numa outra parede, são exibidos os governantes da Rússia, Vladimir Putin; da Coreia do Norte, Kim Jong Un; e da China, Xi Jinping.
"Eles são uma fonte de inspiração" para a "nossa total independência", diz Rafael Arévalo, de 28 anos.
"Os coletivos são uma força civil que apoia o governo. Estão lá para manter a paz", declarou o jovem apoiante chavista.
De facto, em certas áreas onde os coletivos estão fortemente estabelecidos, a criminalidade é baixa.
Em Catia, um grande bairro operário no oeste de Caracas, Damaris Mujica, 54 anos, é uma das poucas mulheres que lidera um coletivo, o Warairarepano.
"Se tivermos que ser violentos, obviamente seremos. Se me bater, eu vou bater-lhe. Se me quiserem magoar, eu não vou deixar", respondeu à oposição.
Os coletivos ajudaram a dispersar as manifestações pós-eleitorais, enquanto espalhavam o terror dia e noite, como em Petare, um gigantesco bairro de Caracas considerado um dos maiores da América Latina.
"Se eu sair (para protestar), não voltarei", disse Josumary Gómez, de 32 anos, durante as manifestações.
"O objetivo dos coletivos é instaurar o medo", diz outro morador do bairro.
"Impunidade total"
Phil Gunson, do International Crisis Group, prefere descrever os coletivos como grupos "parapoliciais" em vez de "paramilitares".
"Eles geralmente estão de capuz" e "estão armados ou, pelo menos, pode presumir-se que estejam armados (...) Pessoas foram feridas, foram mortas por esses coletivos", disse.
Gunson afirma que estes grupos "têm ligações diretas" com a polícia e as agências de inteligência, e "são financiados pelo poder", e com uma "impunidade total".
Aproveitando-se do apoio das autoridades, alguns coletivos passaram a comportar-se como "grupos criminosos" que praticam a "extorsão", segundo a ONG InSight Crime, que trabalha contra o crime organizado na América Latina.
Teodoro Cortez e Damaris Mujica rejeitam estas acusações, negam receber dinheiro do Estado e dizem viver dos negócios dos seus grupos.
Mujica diz que existe duas cafetarias, um cabeleireiro e um estúdio de tatuagens que são propriedade do coletivo. "Não pedimos um centavo aqui", conta, embora reconheça que o "dinheiro" pode ter-se tornado a força por detrás de outros coletivos.
"Nunca daremos um passo atrás (...). Eu sempre peço a Deus que todas as pessoas que falam mal dos coletivos vivam por mil anos, porque haverá mil anos de revolução, mil anos dos gloriosos coletivos", diz Cortez.
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