A recolha do mel (cresta) deverá estar concluída em finais de agosto, “com cerca de um mês de atraso”, já que habitualmente a maioria dos apicultores tem este trabalho realizado no início do mês, disse à agência Lusa o presidente da Lousãmel, António Carvalho.
“Não há dúvida nenhuma” de que a “persistência de chuva” no fim da primavera e nas primeiras semanas do verão, bem como a ocorrência de neblinas em julho, mês com céu nublado e temperaturas consideradas baixas para a época, podem explicar este atraso, adiantou.
Na sua opinião, a “quebra acentuada” da produção de mel na região, designadamente o mel DOP Serra da Lousã, radica igualmente na devastação causada pelos incêndios de 2017 na flora autóctone, tendo desaparecido milhares de quilómetros quadrados de áreas florestais em que abundavam urzes diversas, cujas flores estão na base das características únicas do produto.
Segundo a avaliação da Cooperativa Lousãmel, verifica-se “em geral uma baixa preocupante” na produção de mel.
“O mel nas colmeias é muito pouco. Desde que sou apicultor, há 40 anos, não me lembro de um ano assim tão mau”, afirmou António Carvalho, que tem auscultado os mais de 400 associados da Lousãmel, os quais confirmam as previsões negativas da safra para este ano.
Em tais circunstâncias, pode estar comprometida a realização da Feira do Mel da Lousã, que a Cooperativa promove há quase 30 anos, no outono, sempre numa parceria com a Câmara Municipal.
“Não sei se vamos ter mel DOP em quantidade e se a feira não pode vir a estar em causa”, lamenta António Carvalho, ao realçar que as últimas edições da Feira do Mel e da Castanha da Lousã têm restringido o evento, durante três dias, à comercialização de mel certificado da Lousã da Lousã, excluindo as produções que não cumprem este requisito.
Com sede na Lousã, na zona industrial dos Matinhos, a Lousãmel, assume a gestão da DOP Serra da Lousã, que abrange 10 municípios: Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Vila Nova de Poiares, nos distritos de Coimbra e Leiria.
O incêndio que eclodiu na Lousã, em 15 de outubro de 2017, destruiu centenas ou mesmo milhares de colmeias, o que “compromete o futuro” da atividade apícola na região, disse na altura uma responsável da Lousãmel à agência Lusa.
“Não sobreviveu nada num raio de muitos quilómetros”, afirmou Ana Paula Sançana, diretora executiva da Lousãmel.
Este nível de destruição “não compromete apenas a DOP Serra da Lousã, fica em causa o futuro da própria apicultura” na região demarcada, alertou na ocasião.
Na sequência dos incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande e Góis, em 17 de junho, a Lousãmel tinha calculado que “milhares de colmeias” foram então queimadas.
O fogo consumiu ainda o pasto das abelhas em vários concelhos, o que resulta numa redução da produção de mel de urzes certificado da Serra da Lousã nos próximos anos.
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