A vista a Serralves ficou definida depois de aprovados, pela comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na passada semana, os requerimentos do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Socialista (PS), para a realização de audições do diretor demissionário do museu, João Ribas, e da administração da Fundação de Serralves.
O diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves demitiu-se a 20 de setembro, após a inauguração da mostra “Robert Mapplethorpe: Pictures”, que comissariou, por entender que não tinha condições para prosseguir o trabalho, depois de terem sido definidas zonas reservadas na exposição, e de o seu universo ter sido reduzido de 179 para 159 obras.
Fotografias de nus, retratos de artistas como Patti Smith ou Iggy Pop e imagens de cariz sexual compõem a primeira exposição em Portugal do fotógrafo norte-americano.
Durante os primeiros dias, Serralves reservou uma das salas a maiores de 18 anos, com obras consideradas mais sensíveis.
Ribas disse, num comunicado divulgado na quarta-feira, dia 26 de setembro, que se demitira por entender que “não é admissível que a liberdade e a autonomia do diretor sejam desrespeitadas”, defendendo que o cargo “é incompatível com ingerências, pressões ou imposições que limitem a sua autonomia técnica e artística”.
Segundo Ribas, ao programar “Pictures”, de Mapplethorpe, teve de lidar com “restrições e intervenções”, por parte da administração da fundação, que levaram a “um ponto de rotura”.
Essas restrições, de acordo com o diretor demissionário, tiveram consequências na “conceptualização expositiva”, e obrigaram a “sucessivas reorganizações”, nomeadamente “na exibição de determinadas obras e na localização de outras”, o que levou a uma “descontextualização profunda” da mostra e a uma alteração dos trabalhos selecionados, de modo a que “a exposição fosse um todo coerente” e “se promovesse de modo adequado o conhecimento e o diálogo social protagonizados por Robert Mapplethorpe”.
Segundo o diretor demissionário, estavam inicialmente selecionadas para exposição 179 obras, mas esse número teve assim de ser reduzido para 161, pelas interferências e, depois, “no dia da inauguração”, de novo limitada a 159.
O conselho de administração da Fundação de Serralves, por seu lado, garantiu, no mesmo dia, não ter mandado retirar qualquer obra da exposição do fotógrafo Robert Mapplethorpe, num encontro tido com a imprensa.
“Em Serralves não há, nem nunca houve censura, nem nunca sob a nossa responsabilidade haverá censura. Mas também não haverá complacência com a falta de verdade, nem fuga às responsabilidades”, disse a presidente de Serralves, Ana Pinho.
As audições do diretor demissionário do museu e da administração da fundação deverão ser marcadas após a visita dos deputados à exposição.
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