A universidade de Harvard vai investir 100 milhões de dólares para estudar e corrigir os seus laços com a escravatura, anunciou o presidente da instituição esta terça-feira, diz o The New York Times.

Com este dinheiro vai ser criado um fundo para que se continue a pesquisar e a preservar a memória dessa parte da história, trabalhando com descendentes de negros e nativos americanos escravizados em Harvard, bem como com as suas comunidades mais vastas.

Harvard junta-se assim a muitas outras universidades - incluindo Brown, Georgetown e Princeton - que não estão apenas a lutar com a sua cumplicidade na instituição da escravatura, mas também a colocar recursos financeiros nos esforços de emenda.

Um relatório divulgado com o anúncio de Harvard diz que, na sua origem, a universidade, fundada em 1636, devia a sua imensa riqueza aos patronos da universidade, cuja fortuna era feita à custa de pessoas escravizadas.

"Harvard beneficiou e de certa forma perpetuou práticas que eram profundamente imorais", disse Lawrence S. Bacow, presidente de Harvard, num e-mail aos estudantes, professores e funcionários da universidade.

"Consequentemente, creio que temos a responsabilidade moral de fazer o que pudermos para enfrentar os persistentes efeitos corrosivos dessas práticas históricas sobre os indivíduos, sobre Harvard, e sobre a nossa sociedade", apontou.

O documento contém ainda amplas recomendações sobre a forma como o dinheiro do fundo recentemente criado deve ser gasto. A Harvard Corporation autorizou a atribuição e os fundos estão disponíveis, disseram os funcionários, mas os detalhes finais ainda não foram anunciados.

Do relatório consta também uma lista em que são enumerados mais de 70 negros e nativos americanos escravizados por figuras proeminentes de Harvard — presidentes, colegas, docentes, membros do pessoal e grandes doadores, nos séculos XVII e XVIII.

Quase todas as pessoas escravizadas são identificadas apenas pelo primeiro nome — Titus, Venus, Juba, Cato, entre outros — e pelos nomes dos que as escravizaram.

Foi também feita uma investigação para procurar descendentes dos escravos, tendo sido possível encontrar 50 descendentes vivos de dois deles. Estima-se que se todos fossem encontrados pudessem ser cerca de 50 mil.