“Estamos muito focados nas potenciais ameaças” e “toda à nossa atenção está focada nos aspetos alarmantes da situação” referente à pandemia do novo coronavírus, diz à Wired o professor de psicologia Ethan Kross, que estuda emoções e autocontrolo na Universidade de Michigan.
Thomas Rodebaugh, psicólogo clínico focado em distúrbios de ansiedade e diretor de formação clínica na Washington University em St. Louis, diz por seu lado que todas as medidas de segurança e prevenção que estão a ser tomadas e são visíveis à população, levando, por exemplo, a que locais públicos estejam menos povoados e a que se acumulem filas em supermercados podem “aumentar a perceção de que isto [a pandemia do Covid-19] é perigoso”. “Estamos focados em prestar atenção ao que os outros estão a fazer, acrescenta o psicólogo à Wired.
“O controlo e a certeza estão, de um ponto de visto evolutivo, no centro daquilo que mantém as espécies vivas”, acrescenta à mesma publicação Anu Asnaani, psicóloga clínica na Universidade de Utah que se especializou em distúrbios baseados no medo Assim, a sensação de que não temos grande controlo sobre a situação – apesar de existirem várias recomendações sobre como nos podemos proteger e pode consultá-las na caixa sobre o tema que consta deste texto – ou o facto de ninguém parecer saber quando a pandemia vai terminar e o mundo possa regressar ao normal são fatores que promovem a ansiedade. “Quando não temos certezas, tomamos precauções para garantir que não morremos”, diz.
Contudo, há coisas que podemos fazer para reduzir a ansiedade. A primeira, caso a ansiedade seja algo recorrente, é consultar especialistas em saúde mental, mesmo que não possamos fazê-lo presencialmente. Como refere Anu Asnaani à Wired, “muitos terapeutas estão a recorrer à teleterapia ou a sessões por telefone”, acrescenta a psicóloga clínica, referindo-se ao caso americano onde a terapia à distância parece ser uma realidade nestes dias, algo que provavelmente será também já uma realidade (ou poderá ser brevemente) em Portugal. Adicionalmente, se já recorreu a um profissional de saúde mental no passado, esta poderá ser uma altura em que poderá valer a pena “retomar o contacto e, de forma proativa, tratar da sua saúde mental”, acrescenta a psicóloga.
Ethan Kross, por seu lado, refere que talvez seja útil reenquadrar o surto do novo coronavírus utilizando uma tática chamada de distanciamento temporal ou focando a nossa atenção num horizonte temporal mais vasto. Um exemplo poderá ser imaginar como olharíamos para estes eventos daqui a um ou mais anos, acrescentando que este tipo de exercícios podem “aliviar as emoções”.
Outro dos aspetos relevantes tem a ver com a informação consumida neste período. É bom encontrar um equilíbrio entre aquilo que precisamos de saber para tomar decisões sobre os passos a tomar na nossa vida e dia-a-dia, mas sem nos sobrecarregarmos ao ponto de a informação ser um ponto de stress. Escolher fontes seguras de informação e não viver na bolha das redes sociais que normalmente amplificam mensagens extremas e desinformação. Assim, se a leitura de muitas notícias ou publicações sobre o tema o deixar ansioso, nada como pousar o telefone ou fechar o computador. Em casos extremos, se desligar-se começar a tornar-se um problema, há aplicações que monitorizam o tempo que passamos nos ecrãs que podem ajudar.
Finalmente, depois de reenquadrar a pandemia e de limitarmos o consumo de informação ao estritamente necessário para o nosso dia-a-dia, a realização de atividades que reduzam o stress é também importante para a diminuição da ansiedade.
Thomas Rodebaugh sugere a meditação, ao passo que Anu Asnaani refere que aquelas arrumações e tarefas que foram sendo adiadas em casa, podem funcionar aqui como uma forma de afastar a ansiedade se forem concluídas. Cozinhar, ver vídeos no YouTube ou escrever são outras das alternativas sugeridas pela psicóloga à Wired.
Para além do stress provocado pelo situação atual, o isolamento para precaver a disseminação do vírus também pode provocar ansiedade – em Portugal, no que diz respeito a este tema, a Ordem dos Psicólogos publicou um guia útil sobre como lidar com a situação. Também a preocupação com familiares e amigos, principalmente os que se encontram em grupos de risco para o vírus, pode ser stressante. Contudo, Anu Asnaani refere que existem várias coisas que podemos fazer para aqueles que mais gostamos sem a necessidade de estarmos próximos, com o acréscimo de poder melhorar a saúde mental de todos os envolvidos. Criar um álbum de fotos, jogar jogos online ou ler livros em conjunto para depois serem discutidos são tudo atividades que permitem mitigar o afastamento social, por exemplo.
No fundo, o desafio é diminuir o stress ao mesmo tempo que nos mantemos a par da informação que permitem mantermo-nos seguros. “Devemos manter a consciência de que a situação é grave” mas sem nos ‘passarmos’ durante o processo". Podemos estar cientes da visão global do tema” sem que isso seja um foco de ansiedade, termina Ethan Kross.
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